Temer diante de uma encruzilhada
17/06/2016 09:07 em Política

- - A crise política deflagrada pela delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado lança dúvidas imediatas sobre o futuro do governo do presidente interino, Michel Temer. - - Está em jogo não apenas o esfacelamento de seu ministério, com a queda do terceiro ministro alvejado pela Operação Lava Jato, Henrique Eduardo Alves, do Turismo. - - Estão em jogo também as medidas econômicas que precisam de apoio no Congresso e a sobrevivência do próprio Temer no cargo.

- “Se tivesse cometido crime, não poderia presidir o país”, afirmou Temer ao negar a acusação de Machado, qualificada por ele de “irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa”. - - Machado respondeu que comprovaria o encontro mantido com Temer na Base Aérea de Brasília em 2012. Na ocasião, diz Machado, Temer lhe solicitou obter doações para a campanha do então candidato à Prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita. Machado afirmou que conseguiu R$ 1,5 milhão de modo ilícito para a campanha.

- - A Aeronáutica informou que não dispõe mais dos registros de entrada na Base Aérea. Ainda não se sabe, portanto, como Machado tentará provar o que disse. Ele disse ter chegado ao local num carro alugado da Localiza. - - Mas um simples registro de aluguel não basta para comprovar o encontro. - - Será preciso apresentar o depoimento de outras testemunhas. Será que elas existem?

- - Independentemente de quem esteja certo, a simples controvérsia é suficiente para aumentar as dúvidas a respeito do cenário futuro. - - Vários empresários voltavam a pensar em investir no país diante dos primeiros sinais de recuperação emitidos pela economia e das propostas sensatas do governo, como o estabelecimento de um teto para o crescimento dos gastos públicos. - - Diante das dúvidas, voltará a prevalecer a cautela.

- - O futuro do governo está, no fundo, nas mãos do Congresso Nacional. Duas votações de resultado ainda incerto serão centrais para defini-lo. A primeira é a própria Medida Provisória a respeito do teto de gastos. - - A segunda é o julgamento no processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff.

- - Ao montar seu governo, Temer privilegiou a distribuição de cargos para conquistar uma base sólida no Congresso. Até agora, não sofreu nenhuma derrota, e seus projetos foram aprovados por maiorias expressivas. - - Mas o teto de gastos é uma medida de natureza diferente, por interferir no interesse imediato de vários congressistas, os principais interessados nesses gastos. - - Eles precisarão, acima de tudo, ter confiança na permanência de Temer no poder para bancá-lo.

- - É aí que entra em questão a votação decisiva, a do impeachment. Cinquenta e quatro senadores são necessários para condenar Dilma. Até agora, pelas informações disponíveis, os votos declarados contrários a ela não somam 40. Há entre 20 e 25 indefinidos, número suficiente para virar a votação para um lado ou para o outro ao sabor da conveniência.

- - O caso mais ilustrativo é o próprio presidente do Senado, Renan Calheiros. Ele mantém uma desavença histórica com Temer no PMDB. Acabou aderindo meio a contragosto à tese do impeachment, diante da força política da denúncia. - - Seu principal temor é a Lava Jato. Pelas gravações de Machado, acreditava que o governo Temer seria capaz de detê-la. Não foi. Recentemente, Renan voltou a se mostrar hesitante e, na festa junina da senadora Kátia Abreu, contrária ao impeachment, chegou a dizer “sou Dilma”.

- - Está em curso um roteiro político cujo desfecho, a esta altura, ninguém tem condição de prever. - - Com exceção da economia, área para a qual indicou os melhores nomes disponíveis, Temer adotou as práticas da política tradicional para montar seu ministério. - - Apostou na governabilidade, no velho "tomá-lá-dá-cá" de cargos e verbas. Paga um preço alto por isso, à medida que a Lava Jato avança sobre Brasília.

- - O benefício teórico de sua aposta é a maioria no Congresso. Ela deveria bastar para aprovar as medidas mais que sensatas propostas por Meirelles e para afastar o espectro da volta de Dilma. - - Nada disso estava 100% garantido, mas era um cenário mais que provável sem as denúncias. - - Agora, a batalha de Temer se tornou mais dura. - - O país não deveria ter de escolher entre as medidas urgentes para reerguer a economia e o combate implacável à corrupção. - - Infelizmente, é nisso que o governo Temer parece ter se transformado.

 

 

Sexta-feira, 17/06/2016, às 07:25, por Helio Gurovitz/G1

 

 

 

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