Os professores se aposentarão com o mesmo tempo de serviço dos demais trabalhadores, se aprovada a reforma da Previdência. Até agora, a carreira docente tinha regras especiais, por se tratar de atividade que provoca alto desgaste físico ou psíquico.
Sob o ponto de vista jurídico, muito se poderá debater sobre a isonomia do professor com as demais profissões. Porém, do ponto de vista educativo, a questão é: qual será o impacto dos professores terem que permanecer mais tempo na sala de aula, à espera do prêmio da aposentadoria?
Um recente estudo britânico mostra que há relação direta entre a vida profissional e pessoal do professor e sua efetividade no ensino. Ora, o que o professor brasileiro enfrenta hoje é um conjunto de fatores desfavoráveis, convivendo com indisciplina dos estudantes na sala de aula, pressão dos pais e da sociedade, turmas superlotadas e até mesmo violência física e psicológica.
Isso resulta num quadro de desgaste físico e emocional, agravado ainda por condições de trabalho precárias, pela necessidade de assumir jornada dupla para complementar a renda e pela carga de trabalho que o professor deve realizar em casa. À medida que acumula mais tempo no magistério, aumentam também a incerteza, o cansaço, a insatisfação, a sensação de baixo reconhecimento social. Muitos abandonam a carreira e, dos que permanecem, muitos convivem com a frustração e desenvolvem problemas crônicos de saúde.
De fato, a profissão docente aparece entre as que mais levam à síndrome de “burnout”, ou a doença do esgotamento emocional. Diferentes estudos apontam que seis a cada dez professores se sentem “queimados” – como se referem os pesquisadores espanhóis aos afetados pelo problema. Isso prejudica o clima das aulas, a relação com a escola, o rendimento dos estudantes.
Nada disso quer significar que os professores mais velhos não trabalhem bem. Ao contrário, a idade traz um conjunto de experiências muito valiosas para o exercício da profissão docente.
No entanto, se não se alterarem as condições impostas pelo sistema educacional brasileiro aos que abraçam o magistério, certamente haverá impactos negativos na aprendizagem dos estudantes. Precisamos encontrar uma lição mais encorajadora para dar aos jovens sobre a vida e o destino dos que escolhem essa admirável profissão.