Câmara dos Deputados tem passado de escândalos
Política
Publicado em 12/12/2016

  

 

Um salário e uma casa invejáveis, carro à disposição, verbas de gabinete e dezenas de assessores pagos pelos cofres públicos. Tornar-se chefe de um dos três poderes da República, com a atribuição de decidir o que será votado pelos 513 deputados federais, dá ao titular no comando da Câmara dos Deputados uma série de vantagens, além de colocar para esta pessoa a possibilidade de substituir o presidente da República. Mesmo com tudo isso, assim como ocorreu com o ex-presidente da Casa, Marco Maia (PT), alvo de operação da polícia federal na semana passada, quase todos os antigos ocupantes da vaga desde a redemocratização do Brasil em algum momento foram acusados ou processados em escândalos de corrupção.

 

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Pode-se dizer que a maldição do cargo de presidente da Câmara vem desde Ibsen Pinheiro (PMDB-RS). Coube a ele presidir a Casa durante o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. Dois anos depois, em 1994, foi ligado ao escândalo dos Anões do Orçamento (esquema de pagamento de propinas para favorecer governadores e parlamentares) e acabou sendo cassado e se tornou inelegível por oito anos.

Outro que teve nas mãos o poder de tirar um presidente da República do cargo e depois acabou perdendo o próprio posto foi o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Logo depois de comandar o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), Cunha foi afastado do cargo, em maio deste ano, e se viu obrigado a renunciar à Presidência. Ele acabou cassado pelos pares, deixando a Casa aos gritos de Fora Cunha. Suspeito de receber propina da Petrobras, o peemedebista foi preso em outubro em razão de um patrimônio oculto de US$ 13 milhões em contas no exterior.

 

Integrante do baixo clero que surpreendeu a todos ao ser eleito presidente da Câmara em 2005, o ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) perdeu o cargo depois de pouco mais de sete meses na Presidência por ser envolvido em corrupção. Ele foi acusado de receber propina, apelidada de “mensalinho”, de um prestador de serviços do restaurante da Câmara, e acabou renunciando para não ser cassado.

 

POLÊMICO 

 

Quem teve mandato ainda mais curto que o de Severino foi Waldir Maranhão (PP-MA), que ocupou a interinidade da Presidência da Câmara quando Eduardo Cunha foi afastado. Primeiro vice-presidente da Casa, ele rapidamente saiu de cena e convocou nova eleição, mas também deixou sua marca entre os enrolados com irregularidades.

 

Foi condenado pelo Tribunal de Contas do Maranhão a devolver R$ 10 milhões aos cofres públicos por causa do período que foi reitor da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Também quando era vitrine, teve o filho Thiago Maranhão afastado de um cargo no mesmo TCE por ser denunciado como funcionário fantasma.

 

Outro presidente da Câmara condenado, este pela Justiça, foi o ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP). A pena no mensalão foi de seis anos e quatro meses de prisão, por corrupção passiva e peculato, mas não durou muito. Condenado em 2013, o petista conseguiu o perdão do Supremo Tribunal Federal em março de 2016 com base em um decreto assinado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Das antigas, o ex-presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE) também teve uma condenação por prática de trabalho escravo.

 

FRAUDES

 

O petista Arlindo Chinaglia (SP), que foi líder do governo Dilma e tentou voltar à Presidência da Câmara, mas acabou derrotado por Eduardo Cunha no ano passado, é um dos deputados que teve o nome envolvido na chamada Máfia do Asfalto, investigada na Operação Fratelli. Um grupo de 80 prefeituras foi acusado de fraudar licitações em um esquema que desviou verbas e pode ter pago R$ 3 milhões para os parlamentares. Em 2013, Chinaglia foi citado em um grampo por um lobista como suposto beneficiário do esquema.

 

Em julho deste ano, a Justiça Federal de Brasília recebeu ação de improbidade administrativa contra o ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que depois de presidir a Casa também chegou a atuar como ministro do Turismo do governo Michel Temer. Ele se tornou réu em processo que apura indícios de enriquecimento ilícito entre 1998 e 2002, mas continuou com mandato parlamentar até dois anos atrás.

 

Investigado na Operação Lava-Jato desde maio, o ex-presidente da Câmara Marco Maia foi alvo de busca e apreensão da polícia federal em sua casa na segunda-feira da semana passada. O objetivo foi coletar provas do envolvimento dele em um esquema de cobrança de propina. Ele é um dos suspeitos de exigir pedágio de fornecedores da Petrobras para evitar que eles fossem convocados na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava irregularidades na estatal em 2014.

 

Juliana Cipriani /Estado de Minas - Postado em 12/12/2016 06:00 / Atualizado em 12/12/2016 07:47

 

 

 
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