Para quem tem menos de 30 anos, o futuro – e o que dizer do envelhecimento? – é quase uma ficção científica difícil de imaginar. Eu também achava isso, mas ele chega, e ainda bem que chega, porque a outra alternativa é péssima...  Por isso sempre lembro da peça “A dona da história”, de João Falcão, que inclusive ganhou versão para o cinema. Carolina, a protagonista, está na crise da meia idade e se pega pensando: “Um dia, eu tinha 20 anos. E tudo o que eu queria era viver uma história...”. É o bastante para se reencontrar com sua versão de 30 anos atrás e repensar a vida. Num dos diálogos mais divertidos, a Carolina jovem pergunta a ela mesma mais velha:

– E o que você me aconselharia a fazer na minha idade?

– Exercício, muito exercício... – responde a voz da experiência.

 

É justamente por aí que quero começar a falar dos quatro capitais, ou pilares, com que construímos nossa trajetória: físicosocialintelectual e financeiro. Todos são importantes durante o curso de nossas vidas e, quando negligenciamos um deles, a fatura vai ser maior quando estivermos mais velhos. E como seremos velhos durante muito mais tempo que nossos antepassados...

 

Começando por saúde, o capital número um: sem ele, não vai dar para aproveitar a festa. Quem ainda tiver dúvidas e quiser um tratamento de choque pode assistir ao documentário sobre Amy Winehouse, dirigido por Asif Kapaida, que venceu o Oscar da categoria em 2016. O corpo jovem até aguenta noites em claro e bebedeiras, mas os excessos vão constar do seu “prontuário” interno, daí a necessidade de cultivar bons hábitos desde a infância. Não é à toa que a qualidade da merenda escolar é objeto de tanta discussão atualmente – estamos nos tornando uma nação sedentária e obesa.

 

Imagine um contrato tentador, mas demoníaco, assinado quando você tinha oito anos de idade: montanhas de comida industrializada, poucas frutas, quase zero de verduras e fibra, muito controle remoto, elevador, escada rolante e horas infindáveis de joguinhos em todo tipo de tela que apareça na sua frente. Depois de 30 anos você quer rescindir o contrato, mas o quadro é desolador: sobrepeso, falta de condicionamento físico, talvez hipertensão. Se você ainda incluiu uma “cláusula” de fumante a partir da adolescência, o cenário fica mais sombrio.

 

Pesquisadores mediram o custo da inatividade física em 2013 considerando os gastos do sistema de saúde pública com cinco problemas ligados ao sedentarismo: doenças coronárias, acidente vascular cerebral, diabetes do tipo 2, câncer de mama e de cólon. O estudo, publicado pela revista “The lancet” no meio do ano, mostrou que o custo total no mundo foi de US$ 67,5 bilhões. O Brasil é o país da América Latina e Caribe onde a inatividade custa mais caro: US$ 2 bi.

 

As doenças crônicas são caras também para o indivíduo e, na maioria dos casos, impactam fortemente a família. A boa notícia é que é possível dar um basta ao sedentarismo e garantir seu ingresso na festa. Aos 93 anos, Olga Kotelko, vencedora de centenas de medalhas de ouro na categoria master, foi estudada por pesquisadores da Universidade do Illinois, nos EUA, principalmente porque sua vida de atleta só havia começado aos... 77 anos! Os cientistas queriam saber sobre os efeitos do exercício mesmo na idade avançada – e realmente o cérebro de Olga (que morreu ano passado, aos 95 anos) era diferente dos de outros nonagenários voluntários e parecia mais jovem.

 

Portanto, é só lembrar de Marcos Valle cantando “Estrelar”: “tem que correr, tem que suar, tem que malhar, musculação, respiração, ar no pulmão...”

 

p.s.: no próximo post, capital social e intelectual.