Trinta por cento das marcas de café fabricadas e comercializadas em Minas em 2014 e 2015 estavam impróprias para o consumo. É o que diz o relatório do Procon de Minas Gerais divulgado ontem. Foram encontrados elementos estranhos, impurezas, sedimentos, além de larvas e parasitas. Mais do que não recomendáveis para o consumo, parte delas ainda têm a substância ocratoxina A, considerada cancerígena. E o pior: a maior parte desses lotes identificados como inapropriados já foram consumidos pelos amantes da bebida. Ao todo, 74 marcas não estão aptas para serem utilizadas.
Foram analisadas 241 amostras de café torrado e moído de marcas diferentes entre dezembro de 2014 e junho de 2015. De acordo com o levantamento – o maior já realizado no estado –, a principal irregularidade encontrada foi a presença de impurezas como cascas, paus e outros elementos, totalizando 27,8% das amostras. Já sobre a presença da substância cancerígena, 4,2% das análises apresentaram a existência dela e também foram consideradas impróprias para serem consumidas.
Além das questões de saúde, o bolso dos consumidores também foi atingido. O levantamento detectou que em 6,04% o peso total do produto não era de café. Ou seja, o consumidor pagou por café, mas levou também outros produtos e substâncias dissolvidos na embalagem. Em 2,1% das amostras foram encontradas elementos estranhos como milho, por exemplo. Nesse caso, a adição é considerada adulteração.
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Ainda sobre a toxina, as coletas realizadas nas regionais de Contagem, Passos e Caratinga foram as que apresentaram maior comprometimento da saúde dos consumidores, quando ingeridas. Nelas, a presença da ocratoxina A registrou índices alarmantes. Sendo 12,9% das amostras em Varginha; 4,2% em Passos; 4,5% em Caratinga e 20% em Contagem. Contudo, as regionais de Montes Claros, no Norte de Minas, Pouso Alegre e Varginha, no Sul do estado, são os locais onde a quantidade de impurezas foi maior.
Mesmo marcas de produtores que detêm o selo de qualidade emitido pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), apresentaram problema. Ao todo, 11% deles tiveram as amostras classificadas como improprias para serem servidas.
Punição
“Todos os produtores que apresentaram problemas com as amostras coletadas estão sendo notificados a corrigir as irregularidades e também estão sendo processados. Eles também serão penalizados com o pagamento de multas”, afirmou o promotor e coordenador do Procon de Minas do Ministério Público, Fernando Ferreira Abreu. Os recursos arrecadados com as multas, segundo o procurador, serão depositados no Fundo Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor e serão usados para viabilizar a quantidade e qualidade das análises tanto do café, como de outros produtos.
As 241 marcas analisadas totalizam mais de 80% das torrefações existentes em todo o estado de Minas Gerais.“É uma amostra bastante consistente, por isso os resultados dela são alarmantes e preocupantes”, considera o procurador. “Algumas das impropriedades detectadas não prejudicam necessariamente a saúde do consumidor, como é o caso das amostras que apresentaram a presença de paus e cascas, porque isso, na verdade, é fruto da própria produção. Mas nos casos da toxina há dano à saúde, nesses casos, até as multas têm dosimetrias diferentes”, afirma Fernando.
Fiscalização
Ainda de acordo com o procurador e coordenador do Procon, todos os produtores que tiveram problemas com suas amostras passarão por fiscalização mais intensa, até por causa das irregularidades já detectadas. O produto coletado foi analisado por dois laboratórios do Ministério da Agricultura. Um deles ficou responsável por examinar a existência de impurezas e o segundo a presença da ocratoxina A.
Em alta, no ano passado o consumo de café no Brasil registrou leve crescimento de 0,86% nos 12 meses compreendidos entre novembro de 2014 e outubro de 2015, totalizando 20,508 milhões de sacas de 60 kg. O consumo per capita em 2015 foi 4,90 kg/habitante/ano de café torrado e moído (6,12 kg de café verde em grão), o equivalente a 81 litros/habitante/ano. O levantamento é da Abic com base em dados da área de pesquisa da entidade.
A reportagem tentou contato com a Abic para repercutir a existência de produtores certificados com o selo de qualidade, mas que apresentaram contaminação, mas a assessoria não atendeu e nem respondeu aos recados. O mesmo ocorreu no Sindicato da Indústria de Café do Estado de Minas Gerais (Sindicafé-MG).
IMPRÓPRIOS Confira a lista das marcas reprovadas pelo Procon-MG
Caratinga Rozaminas, Uniforte, Caparaó, Caseiro, São Jorge, Sabor da Fazenda, Emerick, Master, Campestre, Lara Café
Belo Horizonte Super Café Cometa, Diadema
Poços de Caldas Muzambinho, Baronesa, Nascente da Serra, Bom Dia
Varginha Raça Negra, Fino Sabor, Matinata, Sorriso, Delícia, Privilégio, Duradouro, Vargenese, Monjolinho, Ouro Mineiro, Pelegrini, do Porto, Fazenda Outro Verde, Planalto, da Serra
Contagem Brasil
Divinópolis Uno, Camacho, Puro Sabor, Bom Despacho, 262, Rede União de Supermercados, Pilão de Minas, Bedê
Passos Moura, Carmelitano, Gostinho de Minas, Aroma da Canastra, Cafundó, Tradição Mineira
Almenara Caseiro, Sabor Ouro Mineiro, Orvalho
Uberlândia Grão de Minas, Trevo de Minas,
Uberaba Uber Uba, do Padre
Conselheiro Lafaiete Camapuã
Patos de Minas Fragata, Criolo
Juiz de Fora Donalice, Caseiro Mineiro, Moeda, Café da Feira, Café do Bom, Viçosence, Hemelly, Alvorada, Café da Vovó, Suprême
Pouso Alegre Capelli, Piranguinho, Cristo Redentor, Zé Nunes, Mais Sabor
Montes Claros Cominas, Tânia Barbacena Tamandaré
Marcelo Ernesto/EM - Postado em 29/09/2016 06:00 / Atualizado em 29/09/2016 16:01