Salto de diagnósticos confirmados no estado revela que doença, diferentemente da tendência no país, afeta mais pessoas dos 20 aos 39 anos
Gabriel Ronan/João Henrique do Vale/Site Estado de Minas
Postado em 06/09/2019 06:00 / Atualizado em 06/09/2019 08:30
A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet/Google
Em meio à disparada de casos confirmados de sarampo em Minas, onde a Secretaria de Estado de Saúde confirmou, em boletim publicado ontem, mais nove casos da doença, elevando o total para 13, um dado chama a atenção: 84,6% dos diagnósticos comprovados, ou 11 dos 13, são de adultos entre 20 e 39 anos. Desses, cinco causam afetam pessoas acima dos 30 anos, justamente aquelas que precisam de apenas uma dose da vacina para se ver livres da doença. Os números chamam a atenção porque, historicamente, a virose se concentram em crianças menores de 1 ano.
No contexto geral do Brasil, em 2019, por exemplo, a maior incidência da enfermidade atinge essa parcela da população: 46 por grupo de 100 mil habitantes – taxa nove vezes superior à registrada na população como um todo. Entre os mineiros, no entanto, o quadro se inverte: nenhum dos 263.146 bebês menores de 1 ano foram infectados, de acordo com o levantamento da Saúde estadual.
Independentemente da faixa etária, o fato é que o sarampo voltou a se espalhar por Minas Gerais como há mais de 20 anos não se via. O número de casos da doença mais que triplicou na última semana, saltando de quatro para 13 confirmações. Todos os casos novos foram confirmados em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, onde nove pessoas foram diagnosticadas com o vírus.
Mas a situação é mais grave: ainda há outras 138 notificações em investigação, entra as quais sete de pacientes que já tiveram exames preliminares confirmando a doença e dependem apenas de testes específicos para comprovação do contágio. Além disso, ao menos dois casos, já confirmados pela Secretaria Municipal de Juiz de Fora, na Zona da Mata, ainda não foram incluídos no levantamento estadual o que, portanto, eleva o total de contaminações para 15, com potencial para chega a 22. A vacina tetraviral, que é eficaz na prevenção da doença, continua à disposição da população em todos os postos de saúde.
Preocupação
Os dados divulgados ontem pela Secretaria de Estado da Saúde mostram que a doença voltou a se espalhar rapidamente. Em uma semana, nove casos foram incluídos no boletim epidemiológico. “Esses casos foram confirmados pelo critério clínico-epidemiológico, isto é, apresentaram sinais e sintomas característicos da doença e têm histórico de contato direto com caso de sarampo confirmado”, informou a pasta.
A Saúde estadual informa que os pacientes fizeram exames laboratoriais, que estão em análise pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). “O caso índice desta cadeia, ou seja, quem transmitiu a doença, é um trabalhador que realiza manutenção de equipamentos de laboratório junto a estabelecimentos de saúde do Triângulo Mineiro e Sul de Minas, proveniente da cidade de Araras-SP, que foi confirmado laboratorialmente por RT-PCR (tipo de exame) realizado no Instituto Adolf Luz/SP”, completou.
Com o novo dado, o estado ultrapassa as contaminações registradas em 1999, último ano com casos autóctones – de transmissão ocorrida dentro do próprio território. Naquele ano, foram nove pessoas acometidas pela virose.
Retorno
A doença volta a assombrar o país depois de anos de trégua. O Brasil passou por diversas epidemias de sarampo entre 1968 e 1991, com picos de expansão que infectavam milhares de pessoas, em média, a cada dois anos. O vírus acabou perdendo força até que o país ganhou o certificado de território livre do sarampo, em 2016.
Agora, diante da cobertura vacinal insuficiente, a virose volta a se alastrar. Apesar de o país ter registrado diagnósticos no ano passado – todos eles na Região Norte e atribuídos a venezuelanos que cruzaram a fronteira –, o título de erradicação foi perdido neste ano, depois da confirmação de um caso endêmico.
Em 2019, o quadro mais grave é o da cidade de São Paulo. Segundo a prefeitura local, os primeiros casos surgiram em fevereiro e vieram dos continentes europeu e asiático – a partir de Malta, Noruega e Israel. Na capital paulista, a complicação começou com um jovem que participou de um casamento no país do Oriente Médio. Ele contraiu a doença e passou para quatro pessoas da família. Ainda em fevereiro, dois bebês chegaram dos países europeus com o vírus. O caso da ilha no Sul do continente foi contraído em um navio turístico.
São Paulo registra, segundo o último boletim do Ministério da Saúde, 2.299 casos confirmados – 98,6% do total já diagnosticado no Brasil. A doença está disseminada por 66 cidades paulistas. Há outros 12 pacientes no Rio de Janeiro, cinco em Pernambuco, quatro em Santa Catarina e três no Distrito Federal.
Goiás, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Bahia, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Piauí têm um caso cada. No Brasil inteiro são 2.346 pessoas infectadas, somando as informadas pelas secretarias de Saúde de Minas Gerais e Juiz de Fora.
Nova paralisação
Assim como nos últimos dias, Belo Horizonte teve mais um equipamento de saúde afetado pela suspeita de sarampo ontem. Desta vez, a interdição parcial ocorreu no Hospital Felício Rocho, localizado no Barro Preto, Região Centro-Sul da capital, para desinfecção e bloqueio vacinal, durante a manhã. Os serviços foram retomados à tarde. O mesmo protocolo teve que ser usado no Centro de Saúde Jardim dos Comerciários, no bairro de mesmo nome, em Venda Nova.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do hospital particular confirmou que os serviços foram paralisados depois da entrada de dois pacientes com suspeitas da doença no pronto-atendimento adulto. “A partir da confirmação da suspeita, o Hospital tomou a medida protetiva de fechar o pronto-atendimento para procedimentos de higienização e imunização dos contatos. A reabertura ocorreu no início da tarde”, informou.
Quem deve se vacinar
» Podem ser vacinadas crianças a partir de 6 meses de idade. De 6 a 11 meses, a criança toma uma dose zero. Com um ano se vacina novamente e, aos 15 meses, recebe a dose de reforço
» Até 29 anos a pessoa tem que ter pelo menos duas doses no cartão
» De 29 a 49 anos, a pessoa tem que tomar uma dose