O impacto das redes sociais na circulação da informação tornou o comportamento do eleitor mais volátil, mudando o voto com mais velocidade do que a coleta pode demonstrar
A exemplo das eleições do primeiro turno de 2014 – quando as últimas pesquisas indicavam empate entre Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede) e não captaram a diferença de 10 pontos a favor do candidato do PSDB –, os números de véspera do Ibope e Datafolha não representaram os resultados das urnas deste domingo, nos cenários estadual e federal. Para cientistas políticos e pesquisadores, o impacto das redes sociais na circulação da informação tornou o comportamento do eleitor mais volátil, mudando o voto com mais velocidade do que a coleta pode demonstrar.
Sábado (6/10), os dois institutos indicavam Antonio Anastasia (PSDB) como mais votado em Minas Gerais (40% no Ibope e 22% no Datafolha), enquanto Fernando Pimentel (25% e 29%) e Romeu Zema (23% e 24%) empatavam dentro da margem de erro. No resultado oficial, entretanto, o candidato do Novo surgiu com ampla vantagem na primeira colocação, com Anastasia em segundo. Os dois vão se enfrentar no segundo turno.
Outro cenário que as pesquisas erraram foi para o Senado em Minas. Dilma Rousseff (PT) era apontada como mais votada e terminou na quarta colocação. Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PHS) se elegeram.
No cenário nacional, o candidato Jair Bolsonaro terminou na liderança com votos totais acima dos apresentados de véspera (40% e 41%). O candidato do PSL teve 46%, enquanto Haddad, que tinha 25% em ambos, terminou com 28%.
“Hoje, a questão é a volatilidade de comportamento, dada à rapidez quanto à circulação de informação, falsa ou verdadeira. O comportamento é volátil e o método, a coleta é lenta. Quando a coleta termina, ela dá retrato daquele momento”, afirma jornalista e doutora em Ciências Políticas, Bertha Makaaroun.
Para o cientista político Fábio Wanderley, o cenário político que se formou no Brasil nos últimos anos também favoreceram as mudanças de comportamento. "É uma eleição com vários ingredientes, um processo complexo. Crise política, falta de identificação partidária, as pessoas estão desorientadas", comenta o cientista político.
COMO SÃO AS PESQUISAS
As pesquisas utilizadas para trabalhar com opinião política trabalham com amostragem, cuja seleção é feita através de um protocolo científico baseado na teoria da probabilidade. A partir de um número pequeno, a pesquisa consegue expandir o resultado e ter uma estimativa do território. O tamanho da amostra apresentará diferente nível de confiança e margem de erro.
“A questão colocada não é o protocolo, a grande questão é o comportamento do eleitor. Em um minuto, você interage com muitas notícias nas redes sociais. Quando as redes não tinham essa velocidade e penetração, as interações eram mais lentas e a expectativa de mudança, de posição política, à véspera de eleição era menor. A discussão que está colocada hoje é como coletar mais rapidamente o dado, utilizando protocolo metodológico”, afirma Bertha.
Por Renan Damasceno/Site Estado de Minas
Postado em 08/10/2018 07:00 / Atualizado em 08/10/2018 11:45
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