Capitão da reserva precisa conquistar votos do Nordeste e das mulheres. Petista precisa crescer no Centro-Sul para reverter desvantagem de 18 milhões de votos
No principal dia vivido em uma democracia, quando o povo vai às urnas escolher seus governantes, o primeiro turno das eleições confirma a radicalização do sentimento de uma nação dividida entre candidatos com altas taxas de rejeição, principal desafio que ambos enfrentarão daqui pra frente. O capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL), que por 4,2 milhões de votos (4% dos votos válidos) não leva a vitória no primeiro turno, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), afilhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decidirão em 28 de outubro quem será o futuro presidente do Brasil.
A corrida presidencial permanece em aberto, mas a primeira etapa do pleito já mostra onda bolsonarista varrendo o país, que se inclina à direita, alavanca aliados do militar e busca renovação longe de partidos tradicionais como PT, PSDB e MDB, que saem menores das eleições.
Com 99% das urnas apuradas, o capitão reformado obteve 46,06% dos votos válidos, com 49,2 milhões votos. Haddad conquistou 29,23% da preferência do eleitorado, com 31,2 milhões de votos, desempenho abaixo de seus antecessores, Dilma Rousseff e Lula, confirmando a força do antipetismo. A rejeição ao PT acabou impulsionando o fenômeno Bolsonaro, que levou à eleição de diversos aliados do capitão reformado. O maior exemplo disso é o próprio filho do candidato, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), que venceu em São Paulo com votação recorde, apoiado por 1,7 milhão de eleitores.
O desempenho do militar, deputado federal há sete mandatos, superou as pesquisas e se compara ao de Lula em 2002, na campanha histórica do “Lulinha paz e amor”. Na época, com a adesão do país ao petismo, ele obteve, no primeiro turno, 46,4% dos votos válidos, sendo que José Serra (PSDB), segundo colocado, ficou com 23,2%. A votação pró-Bolsonaro dominou as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país e foi barrada no Nordeste – que elegeu três governadores petistas e dois apoiados pelo partido – e também em grande parte da região Norte, com exceção do Acre e de Roraima, na fronteira com a Venezuela, que enfrenta questão migratória.
Superando a média nacional, em Minas, 48% dos eleitores apoiaram Bolsonaro e 27%, Haddad. Se, em 2014, o estado ajudou a eleger a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), agora segue tendência à direita, que se confirmou também na disputa pelos outros cargos. Dilma ficou de fora do Senado e o atual governador, Fernando Pimentel (PT), do segundo turno ao governo, que será entre o novato Romeu Zema (Novo) e o senador Antonio Anastasia (PSDB), que aparecia liderando as pesquisas.
No segundo turno, o maior desafio de Bolsonaro e Haddad será enfrentar a própria rejeição, de 43% e 36%, respectivamente. Além disso, eles precisam ganhar apoiadores entre os quase 30% de abstenções, votos nulos e brancos. Os votos brancos e nulos somaram 10,2 milhões de votos, num total de 8,8% do eleitorado. Já 29,8 milhões (20,3%) se abstiveram de votar, parcela que cresce e alcançou o maior percentual desde 1998, indicando, a cada pleito, o aumento da descrença dos brasileiros nos políticos.
A vitória do militar em primeiro turno dependia da obtenção de um total de 50% mais um dos votos válidos, pouco mais de 53,4 milhões de votos. Em seu pronunciamento depois do resultado, pelo Facebook, disse que não ganhou no primeiro turno por problemas nas urnas eletrônicas. Desde a campanha, ele já vinha sugerindo falhas na segurança das urnas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afastou essa hipótese. “Se esse problema não tivesse ocorrido, se tivesse confiança no sistema eletrônico, já teríamos o nome do novo presidente. O que está em jogo é a nossa liberdade”, diz.
Agora Haddad terá o desafio de atrair o apoio dos candidatos derrotados, a reboque do movimento feminista #elenão, contrário a seu adversário. “Nós queremos unir os democratas do Brasil, nós queremos unir as pessoas que têm atenção aos mais pobres desse país tão desigual. Queremos um projeto amplo para o Brasil, profundamente democrático, mas também que busque de forma incansável justiça social”, disse, em seu pronuciamento depois do resultado.
Apesar de um movimento na reta final da campanha para que Ciro Gomes (PDT) tomasse o segundo lugar, o pedetista não decolou e estava com 12,52%, com 12,8 milhões dos votos. O tucano Geraldo Alckmin ficou com 4,83% dos votos. Com 1% dos votos, Marina Silva (Rede) acabou atrás de João Amoêdo (Novo), Cabo Daciolo (Patri) e de Henrique Meirelles (MDB).
Haddad também terá que nadar contra a maré do antipetismo, que fez o desempenho do partido encolher no primeiro turno. Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff conquistou 41,6% dos votos válidos, liderando a disputa contra o senador Aécio Neves (33,6%). Em 2010, Dilma ficou com 46,90% dos votos válidos na primeira fase da corrida presidencial contra o tucano José Serra (32,61%). Em 2006, Lula venceu no primeiro turno e, em 2002, o desempenho dele foi de 46,4% contra o tucano José Serra (23,2%).
Para isso, tudo indica que o primeiro embate de Haddad será dentro do próprio partido, na tentativa de fazer aceno mais assertivo na direção do centro político. Advogado, economista, doutor em Filosofia e professor licenciado de Teoria Política na USP, ele sempre foi considerado petista de posições moderadas, o que pode facilitar.
Por Flávia Ayer/Site Estado de Minas
Postado em 08/10/2018 09:11 / Atualizado em 08/10/2018 09:53
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