A exemplo de Jair Bolsonaro, fogo amigo atinge Haddad
Política
Publicado em 03/10/2018

 

Campanha do petista também sofre com declarações polêmicas de membros do partido

 

 

Alvo de fogo amigo nos últimos dias com declarações controversas de integrantes do seu partido, o candidato do PT, Fernando Haddad (PT), chega na reta final da campanha no primeiro turno vendo o crescimento de sua rejeição, a segunda maior entre os concorrentes ao Palácio do Planalto. A  campanha petista sofre agora com a polêmica levantada pelo ex-ministro José Dirceu, de que seria “questão de tempo para o PT tomar o poder”. Antes, a presidente da legenda, senadora Gleisi Hoffmann, também havia feito declaração controversa ao defender o indulto ao ex-presidente Lula, que seria concedido por Haddad caso vencesse a eleição. Outro tema que pode ter influenciado negativamente a campanha seria a convocação de uma Constituinte, incluída na campanha petista e que foi criticada pelo candidato do PDT, Ciro Gomes. Ele criticou Haddad durante o último debate na TV afirmando que não é prerrogativa do presidente da República convocar Constituinte.

 

No mês passado, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, também foi alvo de fogo amigo com falas polêmicas de aliados. O capital da reserva viu seu indicado para o Ministério da Fazenda, o economista Paulo Guedes, defender a volta da CPMF, e seu candidato a vice-presidente, general da reserva Hamilton Mourão, criticar o 13º salário e o adicional de férias, que são direitos constitucionais dos trabalhadores. Apesar do aumento da rejeição, Bolsonaro e Haddad  mantiveram boa margem sobre seus adversários nas pesquisas de intenção de voto, o que segundo especialistas demonstra que seus eleitores já estão consolidados.

 

Pouco conhecido no início da campanha em muitas regiões do Brasil, Haddad viu sua rejeição aumentar de 27% para 38% na nova pesquisa do Ibope e de 32% para 41% na do Datafolha. Declarações polêmicas de aliados podem explicar o aumento do número de eleitores que afirmaram não votar em Haddad de jeito nenhum. A de Bolsonaro subiu de 41% para 45% no Ibope e oscilou de 46% para 45% no Datafolha. Na semana passada, José Dirceu disse em entrevista ao jornal El País que era questão de tempo para o PT tomar o poder. Dois dias depois, em outra entrevista polêmica, o ex-ministro petista defendeu a retirada de poderes do  Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal (STF).

 

Outra declaração polêmica envolveu a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que afirmou em entrevista ser favorável a um indulto para que o ex-presidente Lula deixe a prisão caso Haddad vença as eleições. A hipótese, no entanto, vem sendo descartada pelo próprio Haddad, que afirma que Lula não quer indulto para ganhar sua liberdade, uma vez que se considera inocente e quer ver seu processo julgado pelas cortes superiores. O petista, que vinha crescendo nas últimas pesquisas de intenção de voto, passando de 4% para 21% em um mês de campanha, se manteve no último levantamento com o mesmo percentual.

 

Nesta semana, a campanha petista sofreu novo revés, dessa vez do Poder Judiciário. Após o juiz Sérgio Moro autorizar a divulgação da delação do ex-ministro Antônio Palocci, o esquema do petrolão voltou à tona. Entre os citados por Palocci estão caciques do PT e um dos coordenadores da campanha de Haddad à Presidência, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. O partido negou as denúncias do ex-ministro petista e afirmou que a abertura da delação foi mais um ato político de Moro.

 

13º SALÁRIO E CPMF Líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro também enfrentou fogo amigo pesado nas últimas semanas e foi obrigado a rebater falas de seus aliados ainda no hospital – de onde teve alta no último sábado. A primeira polêmica foi criada pelo economista Paulo Guedes, que o capitão reformado do Exército tem apontado como seu ministro da Fazenda. Em palestra a empresários, Guedes afirmou que seria necessária a criação de um imposto para equilibrar as contas públicas e citou a possibilidade da volta da CPMF. A resposta de Bolsonaro foi imediata, em vídeo postado nas redes sociais garantindo que, se eleito, não vai aumentar impostos.

 

Mas a munição mais pesada partiu da caserna. O candidato a vice-presidente de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, criticou o pagamento do 13º salário e do bônus das férias, considerando esses direitos assegurados pela Constituição “jabuticabas brasileiras”. No mesmo dia, o candidato do PSL rebateu as declarações do vice, desautorizando suas posições publicamente. Ontem, Mourão voltou a dar declarações polêmicas: “Se você for olhar, seu empregador te paga um dozeavos a menos (por mês). No fim do ano, ele te devolve esse salário. E o governo, o que faz? Aumenta o imposto para pagar o meu. No final das contas, todos saímos prejudicados”, afirmou o general.

 

O fogo amigo de Bolsonaro e Haddad vem sendo aproveitado pelos adversários, que endureceram o tom das críticas feitas nas propagandas eleitorais desde a semana passada. O candidatos do PSDB, Geraldo Alckmin, e da Rede, Marina Silva, criticaram as declarações do general Mourão, citando que a eleição de Bolsonaro representará “retrocesso” para os trabalhadores brasileiros. Já o candidato do PDT, Ciro Gomes, afirmou em debate que Haddad faz proposta parecida com a de Mourão ao sugerir a convocação de uma Assembleia Constituinte.

 

Votos consolidados

 

Para o cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fábio Wanderley Reis, a manutenção de Haddad e Bolsonaro à frente das pesquisas, mesmo com grande ataque dos adversários, demonstra que ambos são candidatos com eleitorado já consolidado. “Esse cenário de crescimento e manutenção dos votos para os dois ficou claro nas últimas semanas. As posições de Bolsonaro, com o discurso de que bandido bom é bandido morto, por exemplo, conquistou parte da população que estava procurando uma figura como ele. O crescimento do PT acompanha tendência parecida, ao contrário da direita. Desde a prisão do Lula houve forte mobilização e o candidato do partido recebeu esse eleitorado. Sobra pouco espaço para os demais candidatos, mesmo com tantas polêmicas repercutindo fortemente”, diz Fábio Wanderley.

 

Num cenário de segundo turno entre os dois candidatos com maior rejeição, as pesquisas do Ibope e do Datafolha mostram empate técnico entre Bolsonaro e Haddad. Na primeira, o capitão da reserva o petista têm 42%. Na segunda, Bolsonaro têm 44% e Haddad, 42%.

 

Por Marcelo da Fonseca/Site Estado de Minas

Postado em 03/10/2018 06:00 / Atualizado em 03/10/2018 07:48

A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet/Google

 

 

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