Governadores têm menos chances de se reeleger, dizem especialistas
Política
Publicado em 17/07/2018

Para especialistas, taxa de sucesso de quem pretende ser reconduzido ao posto de governador será menor do que a de anos anteriores. Os 18 postulantes a permanecer nos cargos precisarão driblar aversão popular à política e denúncias de corrupção.

 

 

A menos de três meses do primeiro turno das eleições, com o cenário já se desenhando, os chefes de governos estaduais que buscam se reeleger devem enfrentar dificuldades. Apesar de os índices elevados de sucesso nas últimas cinco disputas eleitorais mostrarem que mais de 60% dos governadores que tentaram continuar no posto conseguiram ser reconduzidos ao cargo, especialistas apontam que o continuísmo não será marca do processo eleitoral deste ano. Entre as principais barreiras dos governantes que postulam retornar ao cargo estão as acusações de corrupção, a rejeição à classe política, o desejo de renovação e a dificuldade fiscal enfrentada por muitos estados.

 

Como as convenções partidárias ocorrem entre 20 de julho e 15 de agosto, conforme calendário eleitoral divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nenhuma candidatura foi oficializada ainda. Mas a movimentação dos partidos indica que pelo menos 18 dos 27 atuais governantes se interessam em pleitear candidaturas. O número não é anormal, já que, desde 1998, em média, 19 governadores disputam reeleição. O que não se sabe é se a situação será favorável à continuidade, como foi em 2006, com 70% de sucesso dos que tentaram um segundo mandato, ou será mais propensa a mudanças, como em 2002, quando apenas metade dos pretendentes conseguiu a recondução, o que ainda é um índice considerado alto.

 

Para David Fleischer, cientista político e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), a conjuntura dessas eleições, em especial, será desfavorável ao continuísmo. “Tradicionalmente, o governador que tenta a reeleição tem a máquina a seu dispor. Este ano, será diferente, porque há uma ideia generalizada de que todos os políticos são corruptos. O candidato novo não tem a máquina à sua disposição, mas tem a condição de opositor, o que pode ajudar”, analisa.

 

Esquadrão

 

No Nordeste, as pré-candidaturas dos governadores petistas da Bahia, do Ceará e do Piauí vão contra a maré, e os atuais governadores Rui Costa, Camilo Santana e Wellington Dias se consolidam como favoritos. Os governantes petistas dos respectivos estados esperam não ser atingidos pelo momento delicado vivido pelo partido com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e miram na desarticulação dos opositores. No estado baiano, o principal oponente do PT seria ACM Neto (DEM-BA), mas o atual prefeito de Salvador não demonstrou interesse em renunciar para compor a disputa.

 

Para o autônomo Paulo César Farias, 60 anos, eleitor da capital Salvador, Rui Costa conseguiu honrar o seu voto e, por isso, pretende reelegê-lo. “A maneira com que Rui trabalhou, principalmente na área de saúde, foi exemplar. A educação, como todas as gestões, deixou a desejar. Mas ele foi bem superior aos outros governadores, porque não é político. É administrador”, opina.

 

Seja pelo discurso, pela postura ou até pelo distanciamento da cena política, a tendência é que os candidatos se adaptem para conquistar o eleitor, que busca renovação. Quanto a essa pretensão, a cientista política Denise Mantovani diz que, se mal-executada, pode ser perigosa. “A renovação precisa vir de dentro da política. A grande renovação é a ideia de que a candidatura se constrói por responsividade entre quem elege e quem é eleito. Não é interessante relacionar a renovação ao discurso manipulado de um outsider ou de alguém alheio à vida política”, critica.

 

Descrença

 

A maioria das pesquisas de intenção de voto apresenta números alarmantes que indicam a vontade do eleitor de votar branco ou nulo. Muitos deles também não sabem a quem vão conferir o voto. David Fleischer indica que as pesquisas pré-campanha, mesmo importantes para o direcionamento do contexto eleitoral, não são definitivas. “Devemos esperar a campanha começar, e os opositores serem definidos nas convenções. Muita água ainda vai passar embaixo da ponte”, pondera.

 

Mas a indefinição dos votos pode, de antemão, entregar a descrença do eleitor para estas eleições. Em Tocantins, depois que o TSE cassou o mandato do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) e da vice, Claudia Lelis (PV), uma eleição suplementar foi realizada em junho deste ano. No primeiro turno, os dois primeiros candidatos somaram 302 mil votos, e a abstenção superou 305 mil. Somando abstenções a brancos e nulos, foram 443,4 mil, quase metade do total do eleitorado tocantinense.

 

No Distrito Federal, um governador não é reeleito desde 1998, quando Joaquim Roriz recebeu a missão de assumir novamente o posto. Agora, em 2018, várias barreiras se impõem ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), e os opositores torcem para que o cenário de não reeleição na capital se mantenha. Fleischer explica que Rollemberg assumiu o governo sabendo que enfrentaria dificuldades. “Ele tomou posse com uma bomba-relógio em cima dele. No último dia de mandato, o ex-governador Agnelo aumentou em 37% o funcionalismo público e isso comprometeu fiscalmente o governo”, explica.

 

De acordo com levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em abril de 2017, os estados com pior situação fiscal eram Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Sem recursos para pagar funcionários, as gestões foram prejudicadas, muitas vezes, pelas restrições orçamentárias, que impossibilitaram a prestação de serviços públicos essenciais. Combinando gastos com pessoal e dívidas elevadas, os momentos de queda na receita, que vieram à tona principalmente no ano passado, resultaram em elevados deficits. As expectativas dos cidadãos, como a abertura de concursos públicos, por exemplo, acabaram não se concretizando.

 

O professor de ciência política da UnB Ricardo Caldas destaca que essa crise fiscal também prejudica as chances de reeleição no Distrito Federal. “Com o comprometimento fiscal, causado pela recessão da economia, houve, no DF, a deterioração de serviços locais, como saúde e segurança pública. Isso fez com que a intenção de voto dele [Rollemberg] caísse”, analisa.

 

Governadores-tampão

 

Em alguns estados, os atuais governadores não são cotados por serem ainda desconhecidos do eleitor. Os chamados “governadores-tampão” assumiram o cargo em abril devido à renúncia dos titulares que decidiram concorrer às eleições de outubro. É o caso de São Paulo, com Márcio França (PSB); Paraná, com Cida Borghetti (PP); e Rondônia, onde Daniel Pereira (PSB) assumiu o governo. Se optarem pela candidatura, podem ter o bônus de já estarem inseridos na gestão.

 

Nas eleições de 2014, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), candidatou-se nessa condição. Pezão, que era vice, assumiu após renúncia de Sérgio Cabral e cresceu durante a campanha. Para a cientista política Denise Mantovani, o domínio da máquina pública é um facilitador principalmente devido às mudanças da legislação eleitoral, a qual, segundo ela, cria mecanismo que dificultam a entrada de novos postulantes.

 

 

 

* Estagiário sob supervisão de Rozane Oliveira

 

 

Por Murilo Fagundes*/Site Estado de Minas

Postado em 16/07/2018 07:51

A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet/Google

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