Antonio Anastasia e Marcio Lacerda, que pretendem disputar o governo de Minas em outubro, estimam déficit bilionário na próxima gestão ao destacar drama fiscal enfrentado pelo estado
A campanha ao governo de Minas inaugura este ano novo estilo. Velhas promessas de um lugar ao céu cederam lugar ao “choque de realidade” mais próximo ao inferno: cortes de investimentos, cortes em contratações, cortes de cargos comissionados, dependência da recuperação econômica do país para o aumento da arrecadação, para não falar da dependência dos favores do governo federal. Tudo isso para sinalizar ao eleitor com ojeriza à política que o “discurso é sincero”: o que se tem pela frente será um déficit estimado ontem pelo pré-candidato ao Palácio da Liberdade e senador Antonio Anastasia (PSDB) de R$ 20 bilhões, mas, que na avaliação do também pré-candidato e ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB) será de R$ 30 bilhões contra um orçamento de aproximadamente R$ 100 bilhões.
O drama fiscal enfrentado por Minas foi o principal tema do encontro com pré-candidatos ao governo do estado com prefeitos da região metropolitana e das cidades mineradoras, promovido pela Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Granbel), em parceria com a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig). Ontem, se apresentaram no auditório Juscelino Kubistchek da Prefeitura de Belo Horizonte Antonio Anastasia e Marcio Lacerda. Na terça-feira que vem será a vez de Rodrigo Pacheco (DEM) e do governador Fernando Pimentel (PT).
-> "As medidas para colocar o estado em ordem, no seu equilíbrio financeiro, vão demorar. Essa demora será de oito meses, um ano? Não sei. Vamos aguardar o conhecimento pleno da realidade" - Senador Antonio Anastasia, pré-candidato do PSDB ao governo de Minas <-
Ao abrir o encontro, o presidente da Granbel e prefeito de Nova Lima, Vítor Penido (DEM), chegou a considerar “quase um suicídio” quem se arrisca a vencer as eleições. Já o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), prenunciou eleições “muito duras”, “amargas” , que longe de seduzir o eleitor, cumprirão o efeito contrário.
“Déficit orçamentário de R$ 30 bilhões, dívida com municípios, atrasos de pagamentos de toda ordem. Infelizmente, o governo estadual não tomou medidas que precisava, deixou o carro desgovernar ladeira abaixo e até aumentou despesas desnecessariamente”, criticou Marcio Lacerda. Segundo ele, diante do “desastre financeiro”, os atrasos de pagamento vão continuar por algum tempo. “Não existe mágica, o que se pode fazer, e há muito, é primeiro dar o exemplo. Por que um governo faz licitação para comprar alimentos e bebidas importadas para servir o Palácio? Eu, se fosse governador, suspenderia por três anos até essas entregas de medalha”, afirmou Marcio Lacerda, que, antes de iniciar a sua exposição, declarou à imprensa que vai concorrer ao governo de Minas, está elaborando o seu plano de governo, descartando vir a se integrar como vice a chapa ao Palácio do Planalto de Ciro Gomes (PDT).
No mesmo tom, prometendo medidas duras e o “corte mais profundo que já se viu na história de Minas”, Antonio Anastasia projetou déficit no estado de R$ 20 bilhões. “Esta é a expectativa, o número que corre informalmente. Temo que o valor seja mais alto do que R$ 8 bilhões informado pelo atual governo”, considerou Anastasia. “Há os restos a pagar que se somam a outras atrocidades. O Poder Executivo tirou do Poder Judiciário R$ 6 bilhões das contas judiciais de pessoas privadas. Esse é o drama. Dizem que o déficit é de R$ 20 bilhões, quantia extraordinária para um orçamento que não chega a R$ 100 bilhões”, afirmou.
SEM BOLA DE CRISTAL Assim como Lacerda, Anastasia afirmou que no curto prazo não haverá como reverter o atual quadro fiscal. “Isso é impossível, não existe mágica para isso. As medidas para colocar o estado em ordem, no seu equilíbrio financeiro, vão demorar”, afirmou, descartando “bola de cristal” com previsões de quando as contas estarão em equilíbrio. “Essa demora será de oito meses, um ano? Não sei. Vamos aguardar o conhecimento pleno da realidade”, disse, defendendo medidas que chamou de “convergência” com o governo federal.
-> "Déficit orçamentário de R$ 30 bilhões, dívida com municípios, atrasos de pagamentos de toda ordem. O governo estadual não tomou medidas que precisava, aumentou despesas desnecessariamente" - Ex-prefeito Marcio Lacerda, pré-candidato do PSB ao governo de Minas <-
“É imprescindível uma aliança forte com o governo federal”, disse Anastasia citando situações como a necessidade da revisão da Lei Kandir e da recuperação dos créditos de Minas junto ao governo federal. O tucano também condicionou a recuperação de Minas ao crescimento econômico do país. “Se continuamos em depressão, o ICMS vai continuar caindo e não conseguiremos recuperar. Com crescimento e fazendo o dever de casa teremos condições a médio prazo de avançar”, salientou, frisando que nos próximos quatro anos, o governo conseguirá no máximo “colocar ordem na casa”.
O novo estilo de campanha, que em outros tempos seria chamado de “sincericídio”, foi inaugurado em Minas por Alexandre Kalil quando concorreu à Prefeitura de Belo Horizonte em 2016. “Quem levar a mensagem verdadeira, sem mirabolismos, vai ser eleito governador. Levei uma mensagem, tinha o que falar. Falei a verdade. Disse que não íamos fazer metrô, que era mentira. Os problemas estão aí, avisei durante as eleições”, disse o prefeito.
Por Bertha Maakaroun/Site Estado de Minas
Postado em 13/07/2018 06:00 / Atualizado em 13/07/2018 07:29
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