Desinteresse do eleitor, a depender do candidato na disputa, pode atrapalhar ou facilitar a chegada ao 2º turno
O alto número de abstenções nas eleições de segundo turno para eleger o novo governador do Tocantins, no último fim de semana, confirmou aquilo que já se sabia: o desencanto do eleitor brasileiro. O desafio, a partir de agora, para políticos pré-candidatos às eleições de 2018 é criar estratégias específicas para esse público. Em alguns casos, a depender do candidato, o número de desistências pode ser positivo. Em outros grupos, a população não sair se casa, pode ter um efeito devastador.
O EM conversou com especialistas sobre como os votos não válidos podem interferir na corrida eleitoral. A tática é uma novidade, por mais que o histórico das últimas eleições mostre um aumento na descrença dos eleitores. Pesquisas apontam que o desencanto pode chegar a 40%. Isso acaba com o mito de que esse resultado poderia invalidar uma campanha inteira. Isso é uma notícia falsa que se espalhou nos últimos anos, mas que não condiz com a realidade, já que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conta apenas os votos válidos nas eleições.
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Mas isso não significa que tal conta não interfira na disputa, por exemplo, à presidência da República. Pesquisas recentes mostram que sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições o número de eleitores que não votam aumenta. Pré-candidatos que buscam os votos de Lula, como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE), Manuela D´avila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSol) têm a tarefa de convencer o eleitor a sair de casa para votar neles.
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Na mesma equação, um candidato como Jair Bolsonaro (PSL) pode sair favorecido, pois a chance do voto de Lula ir para o ex-militar é mínima. Assim, é melhor para Bolsonaro que esse público não vote. “Todos os candidatos que são oposição a quem poderia receber os votos consolidados (de Lula, caso ele não dispute a eleição) vão se beneficiar com a eventual ausência (do petista) ou com os botões de nulo e branco”, disse a especialista em direito eleitoral e professora da Faculdade de Direito do IDP-São Paulo Marilda Silveira.
Ainda para a especialista, a abstenção de votos sempre foi elevada no Brasil, mas o que aconteceu de 2013, no auge nas manifestações, até 2018, é que esse número cresceu significativamente nas eleições. Para conseguir conquistar os votos dos eleitores que querem se abster, é necessário rever a estratégia eleitoral. “Ela deve mudar para convencer as pessoas, porque acaba que todos os candidatos podem sofrer consequências. As eleições do Tocantins foram bem significativas nesse sentido”, afirmou Marilda.
As pesquisas recentes indicam que o número de abstenções deve crescer ainda mais este ano, em relação às últimas eleições gerais, em 2014. O último Datafolha indica que um em cada quatro brasileiros já admite que votará nulo ou em branco (23%). Em janeiro, o índice era de apenas 8%. Outra pesquisa que também indicou um resultado parecido foi a feita pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), em maio deste ano, que indicava 20,4% de eleitores que admitiam votar nulo ou em branco. Nessa pesquisa, esse era o segundo índice mais alto, perdendo apenas para os indecisos, com 39,7%. Nos cenários simulados, que estimulam o voto, os nulos e abstenções chegam a 30,5% no primeiro turno. Questionados sobre um possível segundo turno, há casos em que esse número pode chegar a mais da metade dos eleitores, com 52,8%.
Para o professor Daniel Falcão, ainda há muito para ocorrer até as eleições de outubro deste ano, e ainda é possível isolar um aumento nas abstenções, nulos e brancos. “Está muito cedo para isso. A propaganda eleitoral só começa dia 16 de agosto, então ainda é cedo. Não acho que vá haver um aumento dos votos não válidos. Claro em que eleições proporcionais isso realmente pode acontecer, mas não vejo como isso pode acontecer para as presidenciais”, comentou o professor. “Mas, se uma pesquisa no final de agosto, começo de setembro, apontar isso, podemos ficar preocupados. Por enquanto, acho cedo. As pessoas estão revoltadas com os políticos, e isso é natural devido aos últimos acontecimentos”, avaliou.
O consultor de comunicação, marketing digital e gestão de crise, Marcelo Vitorino, acredita que não há uma “fórmula mágica” para superar esse problema, já que o eleitor está desacreditado. Apesar de Vitorino considerar que o caso de Tocantins seja diferente, já que houve uma ruptura de um mandato por causa da Justiça, é possível que haja um grande volume também de abstenções nas eleições de outubro, mas isso não deve ser tão diferente de 2014. “Nas eleições passadas, ficamos perto dos 30% de votos não-válidos. Este ano, podemos ter algo parecido. Pode chegar até 38%”, afirmou. Isso acontece porque, para ele, este ano há um leque maior de escolhas. “Já aconteceu outras vezes, por exemplo, no caso da Marina Silva. Pessoas que não queriam o Serra nem a Dilma, votavam nela. Depois, foi o mesmo com o Aécio. Você não tinha opção, e hoje você tem”, avaliou.
Sem motivação
A eleição que elegeu Mauro Carlesse teve 75% dos votos válidos, ou seja, 368,5 mil votos. Mas, de acordo com os dados divulgados, houve grande abstenção por parte dos eleitores. Com mais de 1 milhão no estado, apenas 663,2 mil foram às urnas. Os votos em branco somaram 17,2 mil (2,59%), e os nulos 155,6 mil (23,4%). No entanto, a soma dos percentuais de pessoas que não foram votar, assim como aquelas que anularam o voto, ultrapassou mais da metade do eleitorado, com 58,3% do total. As eleições foram convocadas no estado, após o governador eleito em 2014, Marcelo Miranda, ser cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por arrecadação ilícita de recursos durante o período de campanha.
Por Deborah Fortuna/Site Estado de Minas
Postado em 26/06/2018 08:38
A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet