Testemunha diz a Moro que Lula cobrou andamento da reforma em sítio via caseiro
Política
Publicado em 19/06/2018

A propriedade é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente. Lula é acusado de corrupção e propina nas reformas do sítio. O ex-presidente nega taxativamente ser o dono do imóvel e que tenha recebido valores ilícitos.

 

 

 

O encarregado de obras Misael de Jesus Oliveira, da OAS Empreendimentos, revelou, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, nesta segunda-feira, 18, uma "cobrança" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao lago do sítio de Atibaia (SP). Misael narrou que o caseiro "Maradona" passava recados do petista.

 

A propriedade é alvo de ação penal da Operação Lava Jato contra o ex-presidente. Lula é acusado de corrupção e propina nas reformas do sítio. O ex-presidente nega taxativamente ser o dono do imóvel e que tenha recebido valores ilícitos.

 

Misael foi ouvido como testemunha de defesa de outros dois réus no mesmo processo, o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e o executivo Paulo Gordilho.

 

O encarregado citou a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro de 2017. Ele relatou que a ex-mulher de Lula pediu para avaliar um forno na churrasqueira.

 

"A primeira-dama me pediu diretamente algumas coisas. O presidente, só através de recados. Ele nunca chegou para mim para pedir nada", afirmou. "Ele ('Maradona') falava: o presidente tá perguntando quando vai ficar pronto o lago, quando que vai mexer no lago, o que está acontecendo no lago."

 

O encarregado de obras disse ainda a Moro. "Ela (Marisa) me pediu para ver com ela para colocar o forno, me pediu para a gente olhar, dar uma opinião para ela", disse.

 

Misael disse que trabalha na OAS desde agosto de 2013.

 

"Todas as quartas ela (Marisa Letícia) ia com o segurança e nos finais de semana. O ex-presidente eu vi duas vezes lá", afirmou.

 

Misael contou que Marisa e "Maradona" nunca perguntaram os custos da reforma, custeadas pela OAS. O encarregado de obras estimou as obras em "R$ 400 mil a R$ 500 mil" entre material e mão-de-obra.

 

"Quando eu saía da OAS, do escritório da Avenida Angélica, eu levava um valor em dinheiro. Junto com esses valores em dinheiro, eu fazia as compras e guardava as notas. Tudo que eu comprava lá em Atibaia, nos depósitos da região, eu prestava contas quando eu voltava para a empresa", afirmou.

 

Ele relatou que comprava o material com dinheiro em espécie. De acordo com o funcionário, a operação não é praxe na companhia.

 

"Normalmente, é comprado pela empresa. Quando eu faço algum serviço pela empresa, eu faço três cotações, orçamentos e compra do fornecedor mais barato e a gente executa. Mas isso tudo é pela compra da própria empresa, do setor de compras", disse.

 

O funcionário relatou que não usava o nome da OAS para as compras. "Normalmente, eu pedia no meu nome, 'Misael'. Pedia para entregar no endereço que era no sítio."

 

Ao juiz Moro, o funcionário disse que participou das obras do sítio de Atibaia em 2014. A reforma teria começado logo depois do carnaval e durado até as eleições daquele ano.

 

"Meu gerente Luis Alberto me chamou na área dele, com mais três pessoas que trabalhavam comigo, e falou que a gente ia fazer uma reforma num sítio em Atibaia, seria uma reforma no sítio do presidente", narrou a testemunha.

 

Misael disse que ia "todos os dias" à obra em Atibaia. Ele contou que havia um projeto para construção de uma capela para 12 pessoas na propriedade, que não chegou a ser realizada.

 

"Assim que passasse a eleição, (ia) começar o serviço da capela", afirmou. "Conversando com o pessoal da empresa, eles pediram para esticar um pouco, para deixar a eleição passar até para ver se a presidente Dilma ia ser reeleita. (…) Pelo que eu entendi, se a Dilma ganhasse, a gente fazia a obra."

 

Afirmou que havia "sigilo" sobre as obras "desde o começo". Segundo ele, os funcionários que trabalhavam na obra, iam para o sítio sem o crachá da OAS, deixavam "guardado na empresa".

 

"Eles pediram para a gente fazer sigilo porque a gente ia trabalhar no sítio do presidente. (inaudível). Ninguém pode ficar sabendo disso, nem aqui na empresa, nem fora. (Inaudível) que a gente não usasse o uniforme da empresa. Foi feito um uniforme sem o nome da empresa", relatou.

 

Defesa

 

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirmou: "A testemunha, que é funcionário da OAS esclareceu que as supostas intervenções ocorridas no sítio de Atibaia que pertence a Fernando Bittar teriam ocorrido em 2014, quando Lula não exercia qualquer cargo público. Também confirmou que jamais conversou com Lula ou recebeu qualquer valor proveniente de contratos da Petrobras, que é a base da acusação contra o ex-presidente e o argumento dos procuradores para escolher o juiz Sergio Moro para julgar a ação. Lula jamais praticou qualquer crime antes, durante ou após exercer o cargo de Presidente da República".

 

 

(Julia Affonso)

 

 

Por Estadão Conteúdo/Site Estado de Minas

Postado em 18/06/2018 21:06 / Atualizado em 18/06/2018 22:42

A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet

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