Ex-governador do Ceará, Ciro reiterou que é contra a atual política econômica e que sua postura não tem poder de mexer com o mercado financeiro.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) defendeu, durante a sabatina promovida pelo Correio com os pré-candidatos à Presidência, nesta quarta-feira (6/6), o fim de privilégios, a manutenção de estatais e a revogação da emenda constitucional que estipula o teto dos gastos. Prometeu sanar as contas públicas em dois anos e disse que, para isso, pretende aplicar uma tributação progressiva sobre herança, renda e remessas ao exterior e diminuir a carga de impostos sobre os trabalhadores e a classe média.
Sobre o concorrente Jair Bolsonaro, Ciro foi implacável: "É um boçal desorientado. Quem vai decidir é o povo, mas, nós, os democratas, temos obrigação de extirpar este câncer enquanto ainda pode ser extirpado", disse.
Ex-governador do Ceará, Ciro reiterou que é contra a atual política econômica e que sua postura não tem poder de mexer com o mercado financeiro. “A primeira pergunta que se faz é se está tudo bem para conservarmos as coisas como estão? O Brasil está muito mal. A situação é terrível. A outra pergunta é o que fazer para mudar isso? O dólar está se apreciando no mundo inteiro. Ontem, foi na proporção de 1,5% no mundo inteiro. Não há candidato nenhum capaz de fazer isso”, comentou.
Sobre a Emenda à Constituição 95, que estipula um teto para os gastos conforme a inflação do ano anterior, Ciro afirmou que revogar o dispositivo é imperativo. “Não há precedente no mundo em se exigir um tabelamento de gastos de 20 anos. Nascem 2,5 milhões de bebês por ano no Brasil. Eu preciso ter maternidades e matrículas progressivas para atender este crescimento”, afirmou.
“O país tem 62,5 mil homicídios em 12 meses e capacidade de investigar apenas oito em cada 100. Não vamos repor os cargos da polícia? Supondo que vamos só anualizar a inflação, não temos como expandir os serviços. Não estou nem falando de portos e aeroportos. Portanto, o congelamento é de uma estupidez impraticável”, criticou.
Ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Ciro afirmou que pretende colocar a “sua prática a serviço da nação brasileira”. “Não tive um dia de deficit na minha mão e fui ministro da Fazenda e governador. Por que o mercado vai suspeitar que não sou austero?”, indagou. O pedetista também defendeu a manutenção das grandes empresas estatais. “Tenho segurança que o setor público pode ser administrado com celeridade. Nós não tivemos um escândalo sequer no governo Itamar Franco. No Ceará, a companhia de água e esgoto é estatal e dá lucro”, ressaltou.
Apesar de ser favorável à manutenção de estatais, Ciro afirmou não ter “nada contra privatizações”. “O projeto nacional de desenvolvimento é que definirá o que deve ou não ser privatizado. Agora, acho crime o Brasil privatizar o petróleo, sendo que 80% das empresas mundiais do setor são estatais e 20% administradas por cartéis. Portanto, poderemos influir mundialmente na política mundial de petróleo. Nós vamos entregar para os estrangeiros em nome de quê?”, questionou.
Para comparar, Ciro indagou se a Odebrecht e outras empreiteiras envolvidas em corrupção eram estatais. “Vamos ter de fechar essas companhias? Em Sobral (CE), onde fui criado, se a vaquinha que lhe dá leite, queijo e cria pega carrapato, não se mata a vaca. Na Petrobras, vamos fazer valer um padrão de eficiência”, explicou.
No tema segurança pública, Ciro Gomes reconheceu que o país vive uma crise sem precedentes. “Não é que o país tenha falhado na gestão da segurança. Mas o Estado brasileiro talvez não tenha entendido a gravidade da questão. O que fazem os demagogos? Sentem que a população está com medo e impõem um aparato militar. Hoje, o Rio de Janeiro está sob intervenção e, a pretexto de quem há bandidos, quem mora na favela sofre os efeitos disso, enquanto o verdadeiro chefão mora em São Conrado, em Alphaville. Precisamos criar um sistema nacional de segurança e não empurrar isso para os estados, unificando os serviços de inteligência”, defendeu.
Segurança
Segundo o pedetista, as inteligências do país sabem tudo. “Sabem quem são os comandantes, mas ficam ali acanhadas. As cadeias de comando estão todas mapeadas. O que há é uma brutal hipocrisia, porque, por regra, não se considera razoável dissolver o narcotráfico que é financiado pelos barões que cheiram cocaína”, sentenciou.
Para qualificar as políticas públicas, Ciro ressaltou que o Brasil precisa, primeiro, responder de onde sairá o dinheiro. “A lei de menor em esforço indica aquelas práticas em linha com o que ocorre em nível internacional, que é manter o rentismo (mercado financeiro) remunerado”, disse. A sua política, no entanto, pretende tributar mais as remessas de lucros. “O Ceará tributa em 8% que é o limite da constituição. É um estado paupérrimo, mas tem conseguido números excepcionais com políticas públicas. Triplicou o efetivo policial em dois anos”, comparou.
Rejeição
Ao responder se, ao buscar os votos do ex-presidente Lula, não temia aumentar sua rejeição, Ciro lembrou que o PSDB e o PT foram as duas melhores crias da democracia e tinham obrigação de cooperar, mas acabaram se enfrentando, produzindo uma briga entre mortadelas e coxinhas. “Agora todo o mundo é obrigado a replicar isso. Mas é preciso deixar claro que o líder do governo Fernando Henrique Cardoso era Jucá (senador Romero, do MDB). O líder do governo Lular era o Jucá. E da Dilma, era o Jucá. Deu certo? Ladrão do MDB vai me fazer oposição”, bradou.
Para Ciro, é uma mera “constatação” que o modelo da política brasileira passa por uma quadrilha. “Precisamos experimentar outro caminho”, alegou. “Sou ex-congressista, fui o deputado federal mais votado do Brasil no pior momento, com Temer e Cunha (Eduardo, ex-presidente da Câmara dos Deputados) batendo bola. Um já está na cadeia e o outro vai. E o Ciro é que tem temperamento. Ora, por elegância vamos deixar tudo isso acontecer? Com brasileiros morrendo? Isso é medo de quem tem rabo de palha, que quer acordo. Eu não pertenço à máfia. Não podem dizer que sou picareta, nunca respondi por corrupção nem para ser absolvido”, assinalou.
Congresso
Questionado sobre como pretende governar, uma vez que o PDT não é um partido que tenha maioria no Congresso, Ciro não demonostrou preocupação. "Desde o general Dutra (Eurico Gaspar Dutra, presidente de 1946 a 1951), todos os presidentes brasileiros se elegeram com minoria no Congresso. Fernando Henrique não fez reforma, porque não tinha proposta. Passou o primeiro ano tentando passar a reeleição e aumentou a carga tributária”, afirmou.
Sobre a autonomia do Banco Central, Gomes disse que a autoridade monetária defende interesses do Itaú e do Unibanco. "Nós vamos perseguir a menor inflação com pleno emprego. Com um olho no gato e outro no peixe. O FED (Federal Reserve, banco central norte-americano) funciona assim”, argumentou. Ele criticou, ainda, tarifas de serviços públicos, como energia e combustíveis, congeladas. "A tarifa de energia num país como nosso deve ser calculada com base no custo de produção, remuneração de imobilizado, amortização e depreciação e lucro, em linha com competidores concorrenciais, se houver. Se não, com planilha de custos em linha com mercado”, disse.
Diante da crise de abastecimento, provocada após a greve dos caminhoneiros, que protestaram contra os altos valores cobrados pelos combustíveis no Brasil, o candidato do PDT disse que Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras, e o presidente Michel Temer, adotaram uma política errada para os combustíveis. "Deixaram 30% da capacidade de refino parada no país, vendendo petróleo bruto e importando gasolina refinada”, criticou.
"Hoje, 30% da capacidade instalada da indústria estão ociosos, então a inflação não foi por demanda excessiva. Não adianta subir juros e encarecer o crédito para combater essa inflação. O governo subiu a energia, aumentou o gás de cozinha em 90%, empurrando 1,5 milhão de famílias a usarem lenha novamente, e botou o litro da gasolina a R$ 5. E a inflação é de 2,56%”, comentou. "Isso só ocorre porque a economia está indo para o vinagre. Estamos destruindo empresas. Em 1980, 30% da riqueza era da indústria, hoje são 11%. A indústria chinesa cresceu nesse período. Quem está certo, eles ou nós?”, acrescentou.
Previdência
Ciro Gomes alertou que a reforma da Previdência proposta pelo governo economizaria R$ 360 bilhões em 10 anos. "Só o deficit do ano passado foi de R$ 180 bilhões. Que reforma é essa, com a perversão de empurrar mais dez anos de trabalho aos trabalhadores, sem mexer nos privilégios?. A lógica do sistema de repartição é juventude demográfica e alta formalidade no mercado de trabalho", sustentou.
O pedetista defendeu segregar do orçamento da Seguridade Social todos os benefícios de quem não contribui e passar isso para o Orçamento. "Proponho que todos os brasileiros tenham renda mínima. Um regime de repartição, com uma grande acordo para se estabelecer um teto de quatro salários mínimos, talvez três, e daí partir para um regime único", disse.
Sobre a autonomia das instituições, inclusive da Receita Federal, Ciro ironizou: "Qualquer um pode ser presidente da República desde que o BC pertença aos bancos, a Receita tenha autonomia, todo mundo tenha autonomia”, brincou. O pedetista alertou, no entanto, para a necessidade de os brasileiros escolherem bem os parlamentares. “Sou parlamentarista e democrata. Vou fazer propostas e vai ter quem vote contra e quem vote a favor. Eu conheço bem a Receita Federal, é uma ilha de excelência do governo brasileiro. Sei que são concursados, qualificados, decentes, quase inatacáveis. Quando fui ministro, fiz o plano de cargos. Preciso de conversar muito com vocês (da Receita Federal) entre a eleição e a posse, porque quero rever todas as renúncias fiscais. Estou me impondo a tarefa de sanear as contas do Brasil em dois anos”, prometeu. “O Brasil não merecia passar pelo que está passando. Vamos achar a saída para devolver ao povo a felicidade que ele merece”, concluiu.
Após a entrevista, Ciro Gomes afirmou que para dirigir o Brasil é necessário experiência. Ele criticou que Bolsonaro esteja concorrendo à presidência, pois não possui a prática necessária ao cargo. "Eu tenho experiência. É um diferencial importante. Só um país como o nosso permite a um aventureiro concorrer. O Bolsonaro nunca administrou o boteco dos pequenos. Nunca se ofereceu para ajudar o estado dele. Eu dei o rosto para bater. Governei minha cidade, meu estado. Passei pelo filtro. Nunca respondi por um mal feito. Não usei auxílio-moradia para fazer aquilo que ele disse que fazia. É preciso ter clareza. Se você tem um país no olho do furacão, tem que procurar gente que conhece os constrangimentos orçamentários."
Segundo Ciro, Bolsonaro vai terceirizar os serviços. "Por exemplo, a política econômica quem decide é o político. Se terceirizar essa função a um assessor e ele não souber o que está fazendo, quebra o agronegócio do país em menos de dois anos. Os dólares que entram vão sumir, a taxa de câmbio de 3,80 vai para 10 ou 15 por 1. A inflação para 40, 50 100% no ano."
Ele afirmou ainda que possui compromisso com os ajustes fiscais para equilibrar as contas do país. "Sou a favor. Mas não por si mesmo. Mas para produzir dinheiro e melhorar a saúde e a educação."
Sobre possíveis alianças, ele descarta o MDB. "Há exceções. O Roberto Requião, Jarbas Vasconcelos, Mauro Benevides. Tem muita gente boa. Mas o problema é essa quadrilha que tomou conta do país."
Por Correio Braziliense/Site Estado de Minas
Postado em 06/06/2018 21:22
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