Senador diz que sua principal missão nas eleições de 2018 será derrotar Pimentel e o PT
JC - Juliana Cipriani/Site Estado de Minas - A imagem da capa do site Multisom foi retirada de arquivos da internet
Postado em 18/12/2017 06:00 / Atualizado em 18/12/2017 07:25
O senador Aécio Neves (PSDB) está de volta ao jogo político em Minas Gerais e começa, em fevereiro, a se dedicar a reuniões e visitas a pelo menos 10 regiões do estado em busca de reconstruir seu campo político para lançar uma candidatura ao governo.
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Como candidato ao Palácio Tiradentes ou ao Senado, o tucano afirma que sua principal missão nas eleições de 2018 será vencer o governador Fernando Pimentel (PT) nas urnas. Vindo de duas derrotas no estado, o tucano aposta na comparação da atual gestão com os 12 anos em que o governo estadual foi comandado por seu grupo para defender a mudança.
Em entrevista ao Estado de Minas, Aécio não poupou críticas a Pimentel. “A situação de Minas é das mais caóticas hoje do Brasil”, disse. Ele também prometeu responder aos mineiros, por onde for, sobre as acusações que enfrenta na Operação Lava-Jato. “Vou enfrentar isso com altivez, olhando nos olhos dos mineiros de forma muito clara”.
Aécio também disse que o cenário da disputa presidencial está indefinido e que, apesar de o ex-presidente Lula (PT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC) estarem à frente nas pesquisas, há espaço para uma candidatura de centro, que poderá ser ocupado pelo PSDB. O tucano afirmou que o partido precisa se apressar e que o governador Geraldo Alckmin, que assumiu o comando da legenda, deve fortalecer seu discurso e andar pelo país.
O tucano também falou sobre a prisão da irmã e disse ter errado ao aceitar que o empresário da JBS, Joesley Batista, lhe fizesse um empréstimo de R$ 2 milhões entregues em uma mala de dinheiro. Ele, no entanto, negou qualquer crime e afirmou não contar em nenhuma hipótese com uma condenação.
O sr. disse que vai concorrer ao governo ou ao Senado em Minas, mas o PSDB e o senhor vêm de duas derrotas no estado. Como espera reverter esse quadro?
São eleições distintas. Perdemos a eleição municipal, tivemos um grande candidato, mas existia um sentimento em torno de algo novo, que o prefeito Alexandre Kalil (PHS) de alguma forma absorveu, e venceu as eleições. Em relação ao governo, vínhamos vencendo há três eleições e política é cíclica. Perdemos a última eleição e acho que isso está possibilitando aquilo que não existia antes: uma comparação, a possibilidade de um contraponto em relação ao que foi feito no nosso governo e o que está sendo feito no dele: o aparelhamento da máquina pública, desorganização absoluta do estado, o sucateamento das superintendências regionais em todas as áreas. Perder e ganhar faz parte do jogo, mas acho que temos muita solidez para mostrar aos mineiros o que é uma administração eficiente, qualificada, necessária para Minas voltar a ter aqueles indicadores que tivemos no nosso tempo. Recebo manifestações de policiais militares e civis de muita saudades do que era no nosso tempo, quando nossos compromissos eram honrados. Agora, há um esforço hercúleo dessas entidades de servidores não mais para ter um reajuste acima da inflação, como dávamos no nosso tempo, mas para um direito básico, como receber em dia o salário ou ter o 13º antes das festas de Natal. Não obstante isso, temos atuado no Congresso de forma muito firme em defesa de Minas.
O senador Anastasia tem dito que não é candidato. Tirando ele e o senhor, o PSDB não tem nome de peso para apresentar ao governo. Sem um dos dois, o PSDB tem como lançar cabeça de chapa?
Temos que trabalhar com outras alternativas do nosso campo político. Não é necessário que o candidato seja do PSDB, até porque, quando nós construímos nossa obra em Minas, foi com apoio de muitos partidos. Se o candidato for de um desses partidos, nesse campo, que resgate os valores da eficiência, dos resultados da nossa administração, poderá ter nosso apoio e de outras forças políticas. Vamos fazer uma série de reuniões, já temos um encontro pré-agendado para os primeiros dias de fevereiro com o Anastasia, o ex-deputado Dinis Pinheiro (PP) e o Rodrigo Pacheco (PMDB) para tratar da construção desse processo de decisão transparente e harmonioso. Acima das postulações individuais, por mais legítimas que sejam, está nossa responsabilidade de encerrar esse ciclo do governo do PT. Meu papel é construir essa convergência em torno do nome que tenha as melhores condições de vencer, seja do PSDB ou dos partidos aliados.
Em entrevista ao EM, o ex-deputado Dinis Pinheiro, perguntado se queria seu apoio, disse que o mineiro quer mudança e que o senhor estaria mais preocupado com sua defesa no STF. Esse grupo não se desestruturou?
É natural que novas lideranças estejam surgindo. Era uma utopia achar que indefinidamente esse grupo se construiria em torno de uma figura. Estou absolutamente seguro e sereno em relação à minha defesa contra esses ataques torpes dos quais tenho sido vítima. Mas o que percebo, tanto no deputado Dinis, que esteve aqui hoje, quanto nos outros aliados desses partidos, é uma disposição de colocar o interesse de Minas e a derrocada do governo do PT acima das postulações pessoais. Para isso, vamos estar todos absolutamente juntos, não tenho dúvida alguma.
Pimentel e Marcio Lacerda provavelmente vão concorrer. Como será para o senhor, que esteve aliado aos dois na eleição de 2008, tê-los como adversários?
Mantenho uma relação civilizada com ambos, mas obviamente sou oposição ao que o governo Pimentel representa hoje. O prefeito Marcio Lacerda, que foi meu secretário, gostaria também, se possível, de vê-lo dentro dessa construção, mas não posso tirar de ninguém o direito legítimo de postular – e a informação que tenho recebido é que ele tem uma candidatura já colocada de forma mais definitiva. Mas não podemos fechar as portas a alguém da qualidade dele e que tenha essa contribuição importante no nosso período de governo.
Como o sr. está avaliando administração do prefeito Alexandre Kalil? Espera apoio dele na eleição?
A situação das prefeituras hoje não é fácil no Brasil inteiro. O custeio aumentou muito, as receitas vêm diminuindo, e vejo que ele vem fazendo um esforço para, ao seu estilo, enfrentar os problemas de BH. Respeito a administração, sempre me coloquei à disposição em Brasília, naquilo que pudermos ajudar a obter recursos, serei sempre parceiro de BH. Mas, até porque não o apoiei na campanha, não posso cobrar dele apoio. O que pretendo é, independentemente de qualquer posição dele na campanha eleitoral, continuar ajudando BH.
O anúncio da candidatura do senhor ao governo ou ao Senado teve reações negativas nas redes sociais. Como o senhor espera mudar isso?
Todos nós, homens públicos, temos que estar prontos para responder a quaisquer acusações que nos façam. Existe esse episódio específico (da delação de Joesley Batista), que quero andar por Minas e responder a ele, quando essa questão for levantada. Se cometi um erro – e admito que cometi, primeiro em um linguajar que não me é próprio em uma conversa privada, e segundo em um momento de dificuldades, porque depois de ter sido duas vezes governador de Minas e presidente da Câmara, não tinha recursos para pagar custos advocatícios da minha defesa – foi aceitar o empréstimo de alguém que se dizia meu amigo. Vou enfrentar isso com altivez, olhando nos olhos dos mineiros de forma muito clara. Porque, além de mim, os mineiros conhecem minha trajetória, sabem os governos que fizemos e da minha conduta. Por outro lado, recebo manifestações de apoio por onde ando. Em Brasília, estive essa semana com algumas dezenas de prefeitos pedindo que eu volte a Minas e estou organizando uma agenda de viagem a pelo menos 10 regiões do estado agora no começo do ano para conversar, ouvir meus companheiros e dizer que temos todas as condições de encerrar esse ciclo perverso do governo do PT.
O governo Pimentel atribui o enfrentamento da maior crise financeira do estado, com salários atrasados, sem condição de pagar o 13º, à herança do PSDB. Como o senhor rebate?
Isso é incompatível com os números, com a realidade de Minas. Eu próprio assumi o governo do estado em 2003 sem recursos para pagar folha salarial e acabei com 3 mil cargos comissionados na primeira semana. O governo do PT criou 2 mil. Eu priorizei os programas para os quais tínhamos recursos, eles pulverizam os recursos em programas que não chegam onde as pessoas estão. Isentei de ICMS mais de 250 produtos e o que ele fez foi aumentar o ICMS de inúmeros produtos. Acabei com impostos estaduais para residências que consumiam até 90 kw de energia/mês e o PT acabou com essa isenção. Mas os jetons da Cemig aumentaram em mais de 100% nesse período. É uma ausência de prioridades. Transferir responsabilidade é muito cômodo mas isso não podemos aceitar. O que houve aqui foi um descontrole absoluto. A situação de Minas é das mais caóticas hoje do Brasil.
O senhor espera ter o presidente Michel Temer no seu palanque?
Acho que o presidente Michel Temer não vai participar de palanques. E (a pergunta) é até uma oportunidade para repor algo que acho essencial para a compreensão do papel do PSDB em todo esse processo, porque dentro do próprio partido existem incompreensões. Vejo alguns gritando pela impopularidade do presidente e fora Temer; não temos nada com isso. Tinha um Brasil que não caminhava. Demos um apoio a essa agenda de reformas e nunca deixamos de dizer que o PSDB tem um projeto nacional. Agora é o momento de o PSDB defender seu projeto nacional sem se envergonhar de ter participado de um processo de esforço para retomada da economia. O PSDB ajudou na construção desse novo ambiente econômico, mas acho que um governo do PSDB, do ponto de vista nacional, é que pode alavancar essa retomada do crescimento de forma muito mais vigorosa que temos hoje.
Como explicar para o eleitor que o partido ficou no governo Temer até as vésperas das eleições e agora sai?
Apoiamos o Michel por responsabilidade com o Brasil. Apoiamos uma agenda que possibilitou a retomada do emprego, do crescimento, com inflação e juros mais baixos. Essa é a herança que vamos compartilhar na campanha eleitoral, porque sem o apoio do PSDB nada disso teria acontecido, até pela inserção do PSDB na sociedade. Se tivéssemos feito o que sempre faz o PT, se o PSDB tivesse se decidido em razão do seu interesse, podia ter deixado o governo Temer naufragar, mas quem naufragaria seria a população desempregada, as empresas fechando. Ajudamos nessa transição sempre dizendo esse não é o nosso governo, o nosso governo precisará ser eleito.
A candidatura do governador Geraldo Alckmin ainda não decolou. As pesquisas mostram Lula e Bolsonaro na frente. O PSDB pode se tornar coadjuvante nessas eleições?
Acho que não. O governador Alckmin precisará realmente fortalecer seu discurso e andar pelo país, mas há um espaço grande da construção de uma aliança ampla no centro, com o compromisso com essas reformas, porque só elas vão permitir ao Brasil voltar crescer, o resto é balela. A candidatura do Lula será sempre uma incógnita em razão dos problemas que ele enfrenta. Vejo na candidatura Bolsonaro, com quem tenho boa relação pessoal, uma manifestação muito mais de protesto contra tudo que está aí do que algo já preparado para um enfrentamento presidencial. Acho que aquela força de centro que conseguir aglutinar maior número de apoios e falar diretamente à população da necessidade de se reformar o Estado brasileiro é que terá maior chance.
A se confirmar a polarização entre Lula e Bolsonaro, o PSDB fica com quem? O partido se uniria a uma candidatura de extrema-direita só pra não deixar o PT voltar ao poder?
Eu espero que a população brasileira não esteja frente a esse dilema. Acho que haverá espaço para uma construção de centro e é nela que o PSDB tem que buscar seu protagonismo, com alianças verdadeiras, mas, sobretudo, com aliança com a população. O quadro está totalmente indefinido ainda. O PSDB tem que andar rápido e não temer reencontrar com sua história. Tem de refazer seu caminho de compromisso com as reformas, o estado eficiente e uma visão mais liberal para a economia com uma inserção maior no mundo, no sentido de atrair investimentos.
O senhor trabalha com a hipótese de ser condenado nas investigações da Lava-Jato?
Nenhuma. As acusações que me fazem, todas dizem respeito a financiamento de campanha. Eu era presidente de partido e o apoio às campanhas estaduais e nacional era feito por empresas privadas. Elas doavam para os partidos políticos e esses recursos eram registrados na Justiça Eleitoral, estão todos lá. Os investigadores avançam e chegam à conclusão de que o recurso foi aplicado em campanha eleitoral. Tenho plena confiança de que tudo isso vai ficar esclarecido. Houve uma movimentação de criminalizar as doações eleitorais em determinado momento, misturando o que é lícito com o ilícito. Tem algo em comum todos depoimentos. Todos dizem que Aécio nunca deu contrapartida. É isso que está levando a que inquéritos caminhem para o arquivamento.
Em relação à JBS, o senhor precisava do empréstimo e pediu a Joesley, mas por que o dinheiro foi entregue em uma mala?
Na verdade, e uma gravação que havia sido omitida por ele mostra isso, minha irmã ofereceu a Joesley um apartamento que já havia sido oferecido a quatro ou cinco empresários. Com o objetivo de obter sua delação, ele disse ‘não tenho interesse, mas empresto o dinheiro, quando venderem o apartamento você me paga’. Ele que fez questão de que fosse daquela forma, em dinheiro. Ele disse na gravação, ‘tem dinheiro das minhas lojas e eu vou te emprestar’, dinheiro privado. Obviamente, por que insistiu que fosse daquela forma? Para criar a imagem, fazer a fotografia e vender isso para a Procuradoria como estímulo aos benefícios que eles tiveram. Ele insistiu em que fosse dessa forma. Foi um erro aceitar. Foi a forma como ele propôs que eu pagasse os advogados. Agora, onde está o crime? Foi uma armação com conhecimento de membros do MP para que conseguissem sua delação. Em 24 de março, o sr. Joesley participa de uma reunião na PGR durante várias horas, assina um pré-acordo de delação, sai dessa reunião e vai fazer comigo essa gravação, que é um ato ilícito. E mesmo nessa conversa não conseguiu encontrar nenhum crime, tanto que a denúncia da Procuradoria não cita contrapartida nem crime algum.
O último relatório da PF diz que apreenderam chips de celular na sua casa em nome de laranjas. Como explica?
Não recebi isso ainda. Não sei de quem são esses telefones, estou esperando que possamos ter acesso para explicar. Porque era uma casa usada desde a campanha eleitoral por muita gente, quero entender isso para dar explicações cabais. Mas eles próprios investigaram ligações desses telefones e não há ligação que pudesse ser comprometedora. Aliás, em razão desse episódio da JBS, houve essa busca e apreensão que será um ativo importante na minha defesa, porque não se encontrou nada que pudesse apontar para o cometimento de alguma ilegalidade. Isso vai ficar no final provado.
Neste ano o sr. viu sua irmã ser presa e foi afastado do Senado. Qual foi o pior momento?
Essa, de todas as questões, foi a mais absurda, porque a Andrea, que Minas conhece pela correção absoluta, marcou um encontro com ele, a quem não conhecia, para oferecer um apartamento. Isso é corroborado por um telefonema em que ela o convida para conhecer o apartamento da minha mãe, que estava à venda e ponto. A participação dela é apenas essa. Foi levada de roldão em uma injustiça absurda. Acho que a Justiça vai reconhecer o final. Houve ali uma ação despropositada do MP em uma questão que o tempo vai mostrar que, se houve crime, ele não foi cometido por mim e muito menos por ela. E sim por esses empresários e, agora se sabe, com apoio e solidariedade de membros do MPF.