A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que há sinais preocupantes de ofensa a direitos humanos no Brasil, que interessam a todos no país, tanto no presente, como em relação ao futuro, no caso da morte precoce de jovens. Na sua visão, os brasileiros têm convivido com uma realidade de violação de direitos humanos, incompatível com a sua índole pacífica. A procuradora-geral fez as avaliações hoje (6) à noite, quando foi homenageada com o Troféu Hors-Concours do Prêmio Juíza Patrícia Acioli, da Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro), no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
“A educação pública sem qualidade diminui a oportunidade de acesso a trabalho e à compreensão da própria dignidade da pessoa humana. Serviços de saúde precários abreviam vidas criativas, afetuosas e que ainda contribuiriam para o bem das pessoas. A falta de liberdades de religião, de reunião e de associação e de uma vida segura na cidade e no campo tem tolhido o sentido de comunidade e de pluralidade que tanto orgulhavam os brasileiros”, afirmou Raquel Dodge, durante discurso na cerimônia de entrega do prêmio.
A procuradora-geral destacou que deve ser saudado o aumento da intolerância com a corrupção e com a ineficiência na gestão pública no Brasil. “Saúdo esta intolerância como uma novidade muito importante na vida pública brasileira. As pessoas estão cada vez mais atentas ao que acontece com o patrimônio público. As pessoas têm consciência de que o patrimônio público é formado com dinheiro de impostos, e têm consciência hoje de que há uma relação direta entre o bom uso do dinheiro público e os serviços que são prestados pelo estado pela população. Cada vez que o dinheiro público é desviado, significa que há precariedade no serviço público prestado. As pessoas estão compreendendo cada vez melhor e isso deve ser saudado com alegria. Afinal, zelar pelo patrimônio público não é só um trabalho do Ministério Público e da Justiça. É um trabalho de cada um de nós cidadãos”, concluiu, em entrevista, após a cerimônia.
A procuradora-geral disse que a sexta edição do Prêmio Patrícia Acioli reconheceu, entre outros trabalhos, o empenho de pessoas que estão lutando pela reabilitação de jovens, tratamento para mulheres e seus filhos em prisões e, ainda, deram vozes a minorias. “Tenho certeza de que futuras edições continuarão honrando o trabalho dessa corajosa juíza que foi Patricia Acioli. É uma memória que temos que reverenciar”, completou.
O Prêmio Patrícia Acioli é destinado a iniciativas que contribuem para a sociedade e nesta sexta edição houve trabalhos finalistas de dez estados do país, em quatro categorias relacionadas ao tema Direitos Humanos e Cidadania: Reportagens Jornalísticas, Trabalhos dos Magistrados, Práticas Humanísticas e Trabalhos Acadêmicos. A premiação foi criada em 2012 e recebeu o nome em memória da juíza Patrícia Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ), morta no ano anterior, em Niterói, por policiais militares. A juíza havia condenado 60 PMs ligados a milícias e grupos de extermínio.
Edição: Davi Oliveira