Vacinação contra febre amarela ainda está abaixo do ideal em 30% de Minas Gerais
Saúde/Ciência
Publicado em 18/05/2017

Depois de enfrentar seu maior surto de febre amarela silvestre, Minas Gerais ainda registra cobertura vacinal abaixo do considerado ideal por especialistas, em uma área que corresponde a cerca de 30% dos municípios do estado. Isso porque oito das 28 regionais de saúde mineiras estão com o índice de vacinação para a doença abaixo da média do estado, que é de 72,51%. 

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A lista envolve 260 cidades ligadas às regionais de São João del-Rei, Pouso Alegre, Ubá, Barbacena, Ituiutaba, Belo Horizonte, Varginha e Alfenas (veja arte). A pior situação ocorre nas duas primeiras áreas, responsáveis por 75 cidades e com coberturas de 59,9% e 63,57%, respectivamente. Minas iniciou o ano com cobertura vacinal de aproximadamente 50% para febre amarela e desde então foi registrada uma corrida aos postos de saúde em busca de doses do imunizante.

 

A situação encontrada no estado mostra, segundo o infectologista Estevão Urbano, integrante da Sociedade Mineira de Infectologia, que nesses locais de baixos níveis de cobertura a campanha de vacinação precisa continuar, inclusive com monitoramento constante por parte das secretarias de Saúde, dos municípios e do estado, para que se busquem índices mais altos. “Até porque o fato de o surto desde ano estar estancado não é sinal de que as autoridades de saúde não precisem mais convocar a população para a vacina, uma vez que foi justamente a baixa cobertura vacinal que levou à alta nos casos em 2017”, afirmou.

 

Para o especialista, o ideal seria que 100% da população estivesse imunizada, descontando aquelas pessoas que não podem tomar a dose por razões médicas. “Mas, para a maioria das doenças infecciosas, coberturas vacinais em torno de 80% são suficientes para enfrentamento e prevenção de surtos”, disse. Ainda segundo Estevão Urbano, é preciso reconhecer os avanços na imunização em Minas e o salto de 50% para 72,81%, mas ele alerta que o trabalho ainda não chegou à etapa final. “É preciso continuar a mapear essas cidades que têm menor adesão e intensificar as ações nessas regiões”, alertou.

 

Para enfrentamento da doença, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente a vacina por meio do Calendário Nacional de Vacinação nas unidades básicas de saúde de todo o estado, principalmente para as pessoas que moram ou vão viajar para área rural ou de mata. A vacina fica disponível durante todo o ano e ainda tem sido intensificada em algumas áreas. Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, terá reforço.

 

Após a divulgação de um resultado preliminar de exame, que constatou a febre amarela como causa da morte de um mico encontrado na região do Vale do Sereno em 9 de março, o município deu início a uma ação para ampliar a vacinação contra a doença no local. Desde a última terça-feira e até 2 de junho, um posto vai funcionar na Unidade Vila da Serra, localizada na Alameda Oscar Niemeyer, 288.

 

No próximo sábado, das 9h às 14h, uma equipe da Vigilância em Saúde percorrerá as residências dos bairros Jardim da Torre e Vale do Sereno para imunizar moradores. A população das demais regiões de Nova Lima, que estão fora do raio de quatro quilômetros considerado como área de risco, deve procurar a unidade básica de saúde mais próxima de casa para se vacinar. De janeiro a abril deste ano, foram vacinadas 21.443 pessoas contra febre amarela na cidade. O número é 1.060% maior que o mesmo período do ano passado, quando foram vacinadas 1.847 pessoas. Também é bem superior ao total de 2016, que registrou 6.402 doses aplicadas.

 

Atualmente, a cobertura vacinal em Nova Lima é de 88,6%, com 73.955 pessoas imunizadas. No início de 2017, esse índice era de 62,9% ou 52.512 pessoas vacinadas. Além do mico encontrado morto no Vale do Sereno, restos mortais de outros 18 primatas foram recolhidos. Ainda há análises em andamento para 10 carcaças. Seis casos foram encerrados, dois foram descartados por critério laboratorial e o resultado inconclusivo está sendo aguardado.

 

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) reafirmou que mantém as estratégias de vacinação, inclusive com distribuição de doses em municípios em área endêmica para febre amarela no estado, elevando o percentual de população imunizada. A pasta informou ainda que dá apoio aos municípios na investigação dos casos e nas ações de mobilização e controle, além de realizar campanhas educativas de mobilização social para eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti em municípios infestados, visando a evitar a reurbanização da febre amarela.

 

RECURSOS 

 

Na nota, a SES informou ainda que o estado liberou R$ 10,9 milhões para os municípios das regionais de saúde de Coronel Fabriciano, Governador Valadares e Manhumirim, atingidas pelo surto, para apoio diagnóstico assistencial e laboratorial, assistência farmacêutica e qualificação da informação de doenças de interesse epidemiológico, entre outras ações. E que investiu mais R$ 2 milhões em campanhas e mobilização. Em Minas, segundo a SES, foram aplicadas 5.045.687 doses da vacina entre janeiro e 8 de maio deste ano.

 

Em Minas, 1.139 casos suspeitos de febre amarela foram notificados este ano, dos quais 427 foram confirmados. Houve exames positivos também em 151 mortes, enquanto outras 50 permanecem sob investigação. No país, até 11 de maio haviam sido confirmados 756  casos. Ao todo, foram notificadas 3.175 suspeitas, sendo que 622 permanecem em investigação e 1.797 foram descartadas. Dos 421 óbitos notificados, 259 (61,5%) foram confirmados, 47 (11,2%) ainda são investigados e 115 (27,3%) foram descartados.

 

Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação de rotina para febre amarela é oferecida em 19 estados com recomendação para imunização. Desde o início deste ano, a pasta informa ter enviado doses extras da imunização contra a febre amarela aos estados que estão registrando casos suspeitos da doença, além de outros localizados na divisa com áreas que tenham notificado casos.

 

No total, 24,4 milhões de doses extras foram enviadas para cinco estados: Minas (7,5 milhões), São Paulo (5,7 milhões), Espírito Santo (3,6 milhões), Rio de Janeiro (5,3 milhões) e Bahia (2,2 milhões). Além disso, foram distribuídas desde janeiro 4,3 milhões doses da vacina de rotina para todas as unidades da federação. Outras 853,4 mil doses foram enviadas para intensificar ações nos outros estados.

 

Enquanto isso...

...Zika se alastrou depois de mutação

 

Cientistas chineses identificaram uma mutação no vírus da zika que pode ter sido responsável pelo rápido alastramento da doença nas epidemias da América do Sul (2015/2016) e da Polinésia Francesa (2013/2014). De acordo com os autores da pesquisa, a alteração aumenta a secreção da proteína NS1, associada ao processo de contaminação de mosquitos transmissores pelo grupo de vírus ao qual pertencem os causadores da zika e da dengue. Ao ser lançada no organismo do Aedes aegypti, a proteína ajuda o vírus a superar as proteções imunológicas do mosquito, possibilitando a infecção. Com isso, a virose se espalha mais rapidamente. Segundo os autores, a mutação ocorreu a partir de 2013, o que explicaria o rápido alastramento do vírus a partir dessa data.

 

Valquiria Lopes/EM 

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