Exames preliminares feitos em pessoas que morreram em Minas Gerais com suspeita de febre amarela silvestre, transmitida pelo mosquito Haemagogus, já indicam que esta foi a causa de pelo menos oito óbitos no estado. As mortes estão entre as 14 até então informadas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) desde o anúncio, feito no início da semana, da ocorrência de um surto da doença registrado nos primeiros dias deste ano. A SES trata as mortes como prováveis, termo que denota a existência de exame laboratorial reagente para a febre amarela, mas que ainda demanda investigação epidemiológica, históricos de vacinação e dos deslocamentos desses pacientes para a confirmação final. Pelo balanço divulgado na noite de ontem pela secretaria, o número de casos suspeitos salta de 23 para 48, sendo que 16 são considerados prováveis.
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· Teófilo Otoni decreta situação de emergência devido à febre amarela
O surto de febre amarela colocou pelo menos 16 municípios em alerta, por terem notificado casos e óbitos suspeitos pela doença ou pela ocorrência de epizootias (morte de primatas). Todos os registros estão sob investigação. Embora não apareça na lista da SES de municípios com casos notificados, Teófilo Otoni decretou ontem situação de emergência devido ao que chamou de “epidemia por doenças infecciosas virais”, referindo-se à febre amarela em cidades de sua microrregião para as quais ele é referência (leia texto nesta página). Pela lista da SES divulgada ontem, Setubinha passa a compor a área de atenção, com um caso notificado. Foram identificadas quatro Unidades Regionais de Saúde com registro de epizootias e casos prováveis de febre amarela silvestre em Minas.
Até ontem, pelo menos três secretarias de saúde informaram ter recebido as confirmações positivas por parte das superintendências regionais da SES às quais estão vinculadas. Além de Ladainha, no Vale do Mucuri, que havia confirmado dois óbitos por febre amarela na terça-feira – entre os 10 que registrou com suspeita da doença –, Caratinga e Malacacheta também informaram, ontem, que exames feitos em seus pacientes atestaram a ocorrência de febre como causa dos óbitos. Todos dependem ainda de uma contraprova da Fundação Ezequiel Dias (Funed).
Desde segunda-feira, quando o governo do estado divulgou a ocorrência de um surto de febre amarela silvestre em Minas, 15 municípios estão em alerta por terem recebido as notificações de casos e óbitos. Em Caratinga, no Vale do Rio Doce, a prefeitura informou que dos oito óbitos suspeitos na microrregião onde está a cidade, quatro já tiveram uma primeira comprovação. Porém, para que a causa seja tornada oficial, o Ministério da Saúde exige uma contraprova, que ainda não foi feita e a Funed está conduzindo as investigações. De acordo com o secretário de Saúde da cidade, Giovanni Corrêa da Silva, até o momento foram 79 casos notificados apenas na microrregião de Caratinga, incluindo os oito óbitos nas cidades de Imbé de Minas, Piedade de Caratinga e Ubaporanga. Entre eles está o de uma adolescente que praticava ecoturismo.
Na Região do Vale do Mucuri, Ladainha e Malacacheta também dão como certas as mortes por febre amarela. De acordo com o prefeito de Ladainha, Walid Nedir de Oliveira (PSDB), até a tarde de ontem, 28 pessoas haviam dado entrada no serviço de saúde do município com suspeita da doença e, destas, 10 morreram. “Já tivemos confirmação de que duas dessas mortes ocorreram por febre amarela”, afirma o prefeito, confirmando que o resultado foi repassado pela Superintendência Regional da SES, em Teófilo Otoni. As outras oito ainda estão em investigação
De acordo com os dados do município, dos 18 pacientes restantes, três tiveram alta e 15 permanecem internados – oito em Teófilo Otoni e sete no hospital municipal da cidade, que teve uma ala separada para atendimentos de febre amarela.
O serviço de saúde de Ladainha recebeu ontem mais 2 mil vacinas, que se somaram a outras 2.600 enviadas anteriormente. A aplicação está sendo feita em uma quadra poliesportiva e entre sexta-feira e ontem cerca de 4 mil pessoas foram vacinadas na cidade de aproximadamente 18 mil habitantes. Dois carros de fumacê foram enviados pelo governo do estado para aplicação de inseticida na zona rural, especialmente no distrito de Concórdia do Mucuri, local de origem de nove das 10 pessoas que morreram com suspeita da doença. “Estamos sendo apoiados por equipes do estado e não há falta de vacinas. As transferências de pacientes para Teófilo Otoni, que no fim de semana estavam muito complicadas, foram regularizadas”, afirmou o prefeito.
Também no raio do alerta da SES, Malacacheta informou ter recebido comprovação da Superintendência Regional do órgão para um óbito por febre amarela, entre os dois que registrou com suspeita da doença. De acordo como secretário de Saúde, Marcus Vinícius Esteves, a cidade ainda enfrenta falta de profissionais de saúde para aplicação das doses e de veículos para deslocamento de equipes.
VACINAÇÃO
Segundo a SES, não há falta de vacina contra febre amarela no estado. Entretanto, devido ao limite de armazenagem do estoque em alguns municípios e ao aumento expressivo da procura, pode ocorrer um desabastecimento pontual. A secretaria informou que está concentrando todos os esforços para envio das doses para as regionais de saúde assim que é solicitada, garantindo a cobertura vacinal nas regiões em alerta. Mas que os municípios devem se organizar para solicitar o quantitativo suficiente para a vacinação da população prioritária.
O estado tinha 300 mil doses em estoque e recebeu ontem, do Ministério da Saúde, mais 285 mil doses, totalizando 585 mil unidades de vacina para imunizar a população do estado.
NOVO SECRETÁRIO
Dois dias depois de informar a população sobre um surto de febre amarela silvestre em Minas, o governo do estado nomeou ontem um novo secretário de Saúde. O deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB) reassume a pasta, que há pouco mais de dois meses vinha sendo dirigida interinamente pelo secretário adjunto Nalton Moreira.
Teófilo Otoni em estado de emergência
Com base em números de casos e mortes por febre amarela silvestre superiores aos já divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), a Prefeitura de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, decretou, ontem, situação de emergência devido à propagação da doença na região. O documento trata a situação como uma “epidemia por doenças infecciosas virais” e descreve a ocorrência de 48 casos em municípios da macrorregião de saúde de Teófilo Otoni. A lista de cidades inclui Almenara, Diamantina, Ataleia, Setubinha, Frei Gaspar, Novo Cruzeiro, Malacacheta, Itambacuri, Poté e também Teófilo Otoni. Pelo decreto, 17 óbitos foram confirmados e, somente em Teófilo Otoni, foram notificados sete casos da doença e quatro mortes. A SES fala de 48 casos notificados em quatro regiões do estado, sendo 16 prováveis; além de 14 óbitos, com oito prováveis.
Entre as razões para a adoção da medida, o prefeito Daniel Batista Sucupira afirma que “o evento é complexo e demanda esforço conjunto de todo o Sistema Único de Saúde (SUS) para conter a epidemia que se alastra em toda região dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha de forma a evitar novos casos”. O documento tem validade de 180 dias e chama atenção para a necessidade de cooperação entre União, Estado e municípios para adoção de medidas urgentes de prevenção, controle e contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública”. Pelo decreto, a Prefeitura de Teófilo Otoni fica autorizada a contratar, de forma justificada, serviços e profissionais, temporariamente; bem como adquirir bens, com dispensa de licitação, diante do quadro enfrentado na região.
Segundo sua assessoria de imprensa, o prefeito editou o decreto por considerar que são “iminentes os riscos de a doença se espalhar para a urbana”. No município há 12 unidades de saúde, onde a vacina está disponível, em doses suficientes para toda a população. (Com Larissa Ricci e Luiz Ribeiro)
Valquiria Lopes/EM - Postado em 12/01/2017 06:00 / Atualizado em 12/01/2017 08:13