Tenho dois amigos que passaram mal enquanto faziam o teste de esforço na esteira e, dali, foram direto para o hospital. Ele já passava dos 60, ela estava com pouco mais de 50 – ambos tinham severas obstruções coronarianas mas, felizmente, foram submetidos a cirurgias bem sucedidas. E é claro que fico tensa quando vou fazer o exame, pronta para ter um piripaque...

 

 

Por isso, foi justamente pelo teste de esforço que começou a entrevista sobre a saúde do coração com o médico Roberto Esporcatte, professor-adjunto de cardiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e coordenador da unidade coronariana do Hospital Pró-Cardíaco. Ele garante que o procedimento é bastante seguro para identificar problemas coronarianos, especialmente em pacientes com sintomas duvidosos ou com risco alto de problemas cardíacos.

 

“No entanto, para a maioria da população, que não apresenta qualquer manifestação suspeita”, diz Esporcatte, “não há justificativa para fazer o teste de esforço ou ecocardiograma todo ano, trata-se de uma distorção da prática da medicina: as pessoas vão ao cardiologista quando deveriam, em primeiro lugar, procurar um clínico geral. No Canadá e na Inglaterra, a pessoa procura seu médico de família e é este profissional que vai avaliar o paciente e decidir se é o caso de encaminhá-lo ao especialista”.

 

A proposta para a saúde pública brasileira também é esta – o problema é a demora para o agendamento de consultas e exames... Todos já se depararam com a lista de fatores de risco que determinam se o paciente é de risco baixo, intermediário ou alto: idade avançada, se é fumante, diabético, hipertenso, com colesterol elevado. Diferentemente da história familiar, que também é importante principalmente para os homens, para Esporcatte esses fatores podem ser modificados com hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e exercício.

 

“Atividade física é essencial. Bastam 30 minutos diários de caminhada. Se a pessoa perde 10 ou 20 quilos, certamente vai precisar de uma dose menor de medicamentos. O Brasil conseguiu saltar da desnutrição para a obesidade, com todo o conjunto de problemas associados, como hipertensão arterial, diabetes e outras alterações metabólicas”, explica.

 

A recomendação de exercício se estende para quem infartou. A diferença é que, dependendo da lesão, essa atividade terá que ser feita com supervisão médica. “Costumo dizer a meus pacientes que tomar os medicamentos da receita é a parte mais fácil do tratamento. A meta que cada um deve se impor é corrigir os vícios alimentares e sair para caminhar todo dia”, finaliza Esporcatte.